quarta-feira, 5 de setembro de 2007

book/livro "Poems"

POEMAS


CAIO MÁRCIO LYRIO


Brasília

25 de agosto de 2006


Quando você empreende o autoconhecimento
como a principal tarefa da vida,
a inquietação desaparece
e um profundo senso de significado
se instala na alma.

Guia do Pathwork,
na Palestra nº 208,
A capacidade inata de criar















Aos meus pais Anezir e Afonso
e aos meus irmãos
Marco Túlio e Marcelo (in memoriam)




Certificado de Registro ou Averbação do EDA/FBN/Minc nº 391.906, Livro 729, Folha 66, de 14/11/2006.

ÍNDICE
1. América .................................................................... 6
2. Fala, consciência e companhia .............................................. 6
3. Ela ........................................................................ 7
4. Mulher (1) ................................................................. 7
5. Muita Coisa ................................................................ 5
6. Eu sou o autor, a ação e a obra ......................................................... 9
7. Viva a diferença! ................................................................................ 10
8. Arte (1) ............................................................................................... 12
9. Corrida Louca .................................................................................... 12
10. ETs .................................................................................................... 14
11. A most appealing way / Um jeito muito atraente ................................ 14
12. Poeta .................................................................................................. 15
13. Free / Livre ......................................................................................... 16
14. Missionário ......................................................................................... 17
15. Evolução ............................................................................................ 18
16. Liberdade ........................................................................................... 18
17. Artista ................................................................................................. 17
18. Fidelidade .......................................................................................... 20
19. Revolução .......................................................................................... 22
20. O Ato de Escrever Redação Oficial ................................................... 22
21. Leçon et des Ennuis / Aula e tédio ..................................................... 23
22. Femmes / Mulheres ............................................................................ 24
23. Injustiça .............................................................................................. 24
24. Vida .................................................................................................... 26
25. Começo .............................................................................................. 27
26. União .................................................................................................. 27
27. Japão ................................................................................................. 28
28. Dorila Alice ......................................................................................... 30
29. Auto-retrato ........................................................................................ 31
30. Verdade .............................................................................................. 32
31. Cláudia ............................................................................................... 33
32. Eneagrama da personalidade ............................................................ 34
33. Amor ................................................................................................... 34
34. Ana Cristina ........................................................................................ 34
35. Ilusão .................................................................................................. 35
36. Engano ............................................................................................... 35
37. Humano .............................................................................................. 36
38. Brasília ............................................................................................... 37
39. Ego ..................................................................................................... 37
40. Auto-retrato (2) ................................................................................... 38
41. Outros lugares .................................................................................... 39
42. Céu ..................................................................................................... 39
43. Miséria e dor ...................................................................................... 40
44. Oração ............................................................................................... 40
45. Nina .................................................................................................... 41
46. No uno, n'uno, Nuno .......................................................................... 41
47. ÂÀÈÍÀ È ÌÈÐ / Guerra e paz .......................................................... 42
48. ÑÂÎÁÎÄÀ / Liberdade ....................................................................... 42
49. Relutância .......................................................................................... 43
50. Felicidade .......................................................................................... 43
51. Amor (2) ............................................................................................ 44
52. Viver .................................................................................................. 44
53. ÆÈÇÍÜ (4) / Vida (4) ........................................................................ 44
54. Amor (3) ............................................................................................ 45
55. ÄÀÂÀÒÁ È ÏÀËÓ×ÀÒÜ / Dar e receber ............................................ 45
56. Lost Freedom / Liberdade perdida .................................................... 46
57. ÓÄÈÂËÅÍÅ / Assombro ..................................................................... 46
58. ÇÍÀ×ÅÍÈÅ ÆÈÇÍÈ / Sentido da vida ............................................. 47
59. ÆÈÇÍÈ (5) / Vida (5) ........................................................................ 48
60. ÂÎËß È ÓÌ / Vontade e mente ......................................................... 48
61. Ungewissheit / Incerteza ................................................................... 49
62. Renascimento ................................................................................... 50
63. Bem Estar ......................................................................................... 50
64. Poeta (2) ........................................................................................... 51
65. Natureza ........................................................................................... 51
66. Reconstrução ................................................................................... 51
67. Imperfeição e vida ............................................................................ 52
68. Du / Você .......................................................................................... 52
69. Tugenden / Virtudes ......................................................................... 53
70. Wir / Nós ........................................................................................... 54
71. L'amour / Amor .................................................................................. 54
72. Humano ............................................................................................. 54
73. Mente ................................................................................................ 55
74. Leben / Vida ...................................................................................... 55
75. Cáctus ............................................................................................... 55
76. Rolfing ............................................................................................... 56
77. Rap da Karla ..................................................................................... 56
78. Sintonia ............................................................................................. 56
79. Evolução ........................................................................................... 57
80. Ser-en-o ............................................................................................ 57
81. Alguma luz mais alta ......................................................................... 57
82. O luxo de estar bem .......................................................................... 58
83. Mestre-irmão ..................................................................................... 58
84. Numérico ........................................................................................... 59
85. S Q .................................................................................................... 59
86. Ensina a viver ................................................................................... 60
87. O Ser ................................................................................................. 60
88. Profissão ........................................................................................... 61
89. Arte (2) .............................................................................................. 61
90. Amar Zen .......................................................................................... 61
91. Mulher (2) .................................................................................................. 62
92. Moça .......................................................................................................... 62
93. Arte Elementar ........................................................................................... 62
94. Pensar ........................................................................................................ 63
95. Pensador .................................................................................................... 63
96. Poesia ......................................................................................................... 63
97. Loucura? .................................................................................................... 64
98 Transmutação ............................................................................................. 69
99 A vida como ela é ....................................................................................... 69
100 Gana agente ............................................................................................... 70










Agradecimentos

Agradeço aos amigos que contribuíram de modo especial para esta obra: a Francisco Régis dos Santos Veras, professor de idiomas com quem estudei a língua russa e que revisou todo este livro, a este e a Maria Lúcia Teixeira Rosa, Maria Alice Mantovani e Lisélia de Abreu Marques, pelo incentivo à publicação deste livro, a Lídia Cavalcante Fernandes, professora de russo que revisou os poemas russos, a Paulo Simeão e Karla de Lima Ferreira, que digitaram vários poemas.

[ 1 ] Brasília, 12/04/1992. América

A América?
Ame-a rica.
Ame-a, pois é rica.
Ame-a, e sempre será rica.
Ame-a e serás rico.
Viva a riqueza.
Vivam os ricos.
Viva a América rica.
Viva a viva América!

[ 2 ] Brasília, 12/04/1994. Fala, consciência e companhia

Ela e eu, tagarelas,
eu e ela,
eu e elas,
que amo
e que amam.
Não dá pra negar,
nem preciso tentar,
nem quero mentir,
dizendo que não gosto de tagarelar;
pois, se falar é bom,
falar demais é bom...
é bom demais...
Vamos soltar a língua,
correr o mundo e a gente
com nossa voz inteligente
que vive à mingua
de tanta coisa linda
que nos é bem-vinda
e que o será para todos
que para a eternidade toda
vislumbrem aquela luz
no final do tão falado túnel,
que com fraternal amor
que revelar sua cor
e seu significado:
que viver é bom,
mas para viver o que é bom;
e nem se preocupe
em deixar o resto de lado,
pois o resto não existe;
existe apenas na mente
de quem para si mente
e dele é crente.
Porém ocupe-se
do “som” do amante,
do “vem cá” da amiga,
do “vamos conversar” do colega,
do “vamos viver” de cada ente;
e então, leve agora você aos outros
a luz da consciência e da sabedoria,
e de viver a alegria.

[ 3 ] Brasília, 25/04/1994. Ela

Ela leal,
leoa legal.
Eu te enleio,
e tu me enlevas
sob um lindo luar.
Brilha,
leva tua luz
a cada ele
que a ti se liga.
Espalha teu amor,
teu esplendor,
avis rara,
leve e forte
como o condor que passa,
e, serena,
segue teu caminho espacial,
que é tão especial,
pois é só teu,
lindo e delicioso como tu,
maravilhoso como o Todo
que te criou:
maravilhante, doante,
felicitante, alegrante,
delirante, excitante, amante!
Avante, amante!

[ 4 ] Brasília, 28/04/1994. Mulher

Dela, minha irmã,
bela cunhatã,
vem muita coisa que é divina,
ou humana e terrestre,
mas que anima,
que se ama,
e que enobrece.
Nada me entristece,
pois toda coisa se desvanece,
que não é perfeita,
obra de mestre.
Mais que sobre-viver
é o viver;
viver é para cima viver,
elevar-se e aos outros elevar,
pois somos unificados.
Palmas para ela, a mulher, a salvadora;
muito do mérito é dela,
pois quem uma pessoa salva
a toda a humanidade salva.
Este poema,
por acaso, foi escrito
por inspiração de um certo humano ser,
feminino, encarnado,
solteiro e descompromissado,
maravilhoso e que julgo por mim amado.
Porém, seu nome fica,
por enquanto, guardado a nenhuma chave,
nos confins de minha mente.
A arte, no entanto,
não precisa ser por alguém
inspirada, ou a alguém dedicada,
nem de dono, autor conhecido
ou destinatário específico.
Arte é criação, beleza,
expressão do Ser.
A arte é livre, pura e simples,
desnecessária para uns,
essencial e a própria vida
para outros, sua própria razão de viver:
transformar em arte
cada aspecto e ato da vida.
Bem, esse poeminha,
ou qualquer criação artística,
poderia ser inspirado por
ou dedicado a:
ninguém, alguém,
todos, todas,
o próprio autor, a arte,
os artistas, o Criador,
o seu inspirador,
a sua musa inspiradora,
qualquer um.
Se, no amor e na guerra, vale tudo,
dane-se, eu posso lutar,
mesmo em desvantagem,
desarmado, pelado,
esfomeado, sedento,
descontente, ardente.

[ 5 ] Brasília, 29/04/1994. Muita coisa

Inventário de um idiota,
ingênuo, pateta,
otário, cretino,
sem juízo nem tino.
Quem diria que um dia
faria tão grande papelão,
passando atestado de burrão,
cabeça-de-vento, quase vazia.
Primeiro, o sentimento
se aproveitou do momento
e arrebatou minha mente,
que se ocupou do poema quente.
Depois, exaltado pelo resultado,
com mão firme e voz confiante,
como uma tour de force,
entrega a peça do delito.
Mas, depois, pousa, aflito,
o fone no gancho.
Ah! Quanta desilusão!
Quanto desengano pela irmã,
quanta decepção pelo irmão
que mata e que morre.
Pobre do pequeno e efêmero eu,
que muito viveu e tão pouco aprendeu.
Ufa! A tormenta passou,
só a vida me restou,
tudo me restou.
Que eu sempre consiga
rir de mim mesmo.
Pô, é tanto não,
agarrão, empurrão,
armação, safanão,
proibição, punição,
será tudo em vão?
Mas produzirei uma razão de viver,
acharei um sentido da vida,
do nada, do caos, do tudo,
de qualquer humano, de qualquer ser.
Se você nunca anotou os seus pensamentos,
inicie agora
(“quando eu tiver mais tempo” significa nunca),
mas cuide para não ser por eles devorado,
a sabedoria é um fardo pesado.
Descubra por si mesmo a verdade,
ou a sua verdade,
ou uma verdade,
ou qualquer verdade.
Tudo apenas pretensa arte,
e já não é parte de mim,
não mais me pertence, está livre.

[ 6 ] Brasília, 01/05/1994. Eu Sou o autor, a ação e a obra

Falso, fingido,
ator escolhido,
fingidor, ilusionista,
mímico, exibicionista,
no palco do artista.
Caem as máscaras da persona,
revelam-se as qualidades da Individualidade,
pra quem de nada vale a personalidade,
mas apenas a pura verdade.
Que tudo seja fogueado,
destruído, matado,
para do adubo fértil
de montes de cinza
fazer renascer uma fênix linda
num eldorado infantil,
esperançante e justo
“donde viveremos con mucho gusto”.
Lá, então, cada um é,
nós somos, tu és
e eu sou o Eu Sou!
Cada um é o autor,
a ação e a obra!
Portanto, cuidado na manobra,
saiba que tudo se desdobra!
Tente tudo fazer na medida correta,
na hora certa,
como uma boa pessoa,
e com outra boa também,
mas sem exagero ou pressa,
pois isso não convém;
mas, se alguém te magoa,
esqueça depressa!
Não sou mestre-cuca,
e isto não é receita de cookie,
nem um formulão infalível,
por mim testado, aprovado,
para o sucesso neste mundo malvado,
apenas dicas de um companheiro,
que já deu muita cabeçada.
Que cada um saiba sobre si
no mínimo isto aqui:
“Eu Sou o autor, a ação e a obra!
Faça-se! Seja feito!
Está feito! E fique feito!
Pois foi feito
com o poder de Deus
que Eu Sou!”

[ 7 ] Brasília, 01/05/94. Viva a diferença!

Algumas pessoas revelam-se,
com o tempo,
cada vez mais especiais
do que no primeiro momento.
Outras muito perdem da atração
com nossa maior interação.
A maioria, talvez,
tem sempre o mesmo encanto,
sem planície nem planalto,
sem baixo nem alto;
se barítono,
mantém sempre o mesmo tom,
se soprano, nunca me engano,
se contralto, nem sempre me exalto;
que delícia, finíssimo,
conviver com o sopraníssimo!
Seja lá qual for
o seu interno valor,
saiba que todos têm potencial
para ser um gênio real.
Neste mundo, como tal,
não vale a realidade virtual,
você tem de ser o tal,
senão vai se dar mal,
ou não tão bem
quanto querem.
Não me importam seu status,
seus limites e atos,
apartamento e carrão,
ou grau de instrução, evolução,
cada um é diferente e especial,
pois Deus seria um companheiro relapso?
Sem papel nem lápis,
sem memória,
para não contar história?
Mal acaba uma criação,
esquece a receita, não formula,
e lhe vem de novo o comichão
de criar muito mais coisa bela?
Você não tem igual!
Quero conhecer você mesmo assim,
vem pra mim,
na escola ou no jardim,
no éden ou no parking,
no seu lar ou num restaurante,
na boate ou num mirante,
no paraíso ou no cinema,
na lanchonete ou na festa,
onde não importa,
agora ou depois da sesta,
apenas não esqueçamos o importante,
ela, eu, você e ele.
Juntos seremos um grupo,
turma, galera,
gangue ou equipe.
Essencial é não perder a vontade
de viver em comunidade
com a adequada liberdade,
pureza e fraternidade!
Viva a diferença!

[ 8 ] Brasília, 01/05/94. Arte

Quando alguém cria uma obra de arte,
surge algo de novo no universo,
ela se espalha por toda parte,
muito mais que um mero verso.
Sua energia pura é magia,
gera emoções fortes
em corações sensíveis,
e com suas vibrações contagia
quem com elas entra em sintonia.
Não poderia viver sem o alívio
e o indescritível deleite
que o cinza grafite,
como servo obediente,
proporciona a este poeta incipiente.

[ 9 ] Brasília, 01/05/1994. Corrida Louca

Aos pilotos e a Ayrton Senna da Silva

Ayrton Senna, mais um corredor,
de uma estúpida sina cumpridor,
pelos brasileiros amado,
vítima do fado,
a um triste fim condenado,
no cockpit amarrado,
na célula de segurança esmagado.
O tal fado é composto
de muito dinheiro, sucesso,
ganância e desgosto.
Ao fim, o que era luxo
já nos parece insosso,
louca e vã correria,
terrível fluxo.
No ar de expectativa e emoção carregado,
o piloto concentrado combate,
porém a macchina contra o muro bate;
seu fogo se apagou
após uma falha que nos revoltou,
e no chão deixou
o ser humano derrotado.
Sangue quente
no asfalto fervente,
agradável paisagem italiana
numa inesquecível primavera,
para o digno herói muito severa.
No inferno da pista,
no inverno do artista,
o ídolo se imola
à platéia de Ímola.
Após tanta luta,
o pódio dos campeões
não mais é palco de sua glória;
aqueles momentos felizes já são história;
Não mais comemoraremos sua vitória.
Perplexidade a todos domina,
a todos desanima;
muito dó, muita pena,
mais um deixa a cena.
Vultosos capitais para alguns bolsos correm,
cabelos lindos lindas mulheres cobrem,
mãos ricas, corpos femininos controlam,
como os pilotos, outros tantos seres-objetos;
bólidos rápidos nas pistas deslizam,
pneus lisos nas curvas derrapam,
carros atrozes das curvas escapam,
jovens corajosos da morte não correm,
nem escapam.
Muita coisa dinheiro não compra,
muita gente leva muita bronca
por fazer tudo pela grana,
por fazer pouco da vida humana.
Acidente, esporte,
negligência e morte,
negócios à parte.
Culpa ou dolo?
De qualquer sorte,
não há consolo.
O homem é substituível
como um aerofólio imprevisível,
substituído como mero parafuso partido.
Parta em paz, nobre rapaz.
Agora, somos milhões de pessoas
que perderam muito do sorriso,
milhões de almas
que terão de viver sem ele e com isto:
acidente terá sido?
ou assassinato cometido?
e agora, quem é que vai pagar por isso?

[ 10 ] Brasília, 01/05/1994. ETs

ET’s come from a different land,they are strangers visiting ours.ET’s come and go,they are everywhere you go.ET’s just live beside you,they love, teach and guide you.ET’s are men’s own future,they can provide us with a better one.ET’s won’t forget you when you feel down,they will catch you at dawn.ET’s have travelled longand don’t say so long.ET’s are flying all through the skyand helping me to cry.I will strive to be a good guyand I hope to them never say goodbye. Os ETs vêm de uma terra diferente,são estranhos visitando a nossa.Os ETs vêm e vão,onde quer que você vá eles estão.Os ETs simplesmente vivem ao seu lado,amam, ensinam e orientam você.Os ETs são o próprio futuro do homem;eles podem nos prover algo melhor.Os ETs não o esquecerão quando você não estiver bem,na aurora, eles o resgatarão. Os ETs viajaram muito.Os ETs não dizem até logo.Eles estão voando por todo o céu;ajudando-me a chorar.Eu me esforçarei para ser um cara legal,e espero nunca lhes dizer adeus.

[ 11] Brasília, 01/05/1994.

A most appealing wayYou have a way of yoursthat’s most appealing,and I can’t hide my dreamsfor a person just like you.If I can’t put it right in words,this feeling of mine,I shall forget poetry,stay loose, break away.Although we can’t change the world,with some love and wordsYou’ve changed mineand I could change yours.If you think it’s madness,it doesn’t matter the reason,I’ll let you free.But please just never forget me. Um jeito muito atraenteVocê tem um jeito todo seuque é muito atraente,e não posso esconder os meus sonhospor uma pessoa exatamente como você.Se eu não souber expressar com as palavras certaseste meu sentimento,eu devo esquecer a poesia,desprender-me, separar-me.Embora, com algum amor e palavras,não possamos mudar o mundo você mudou o meue eu poderia mudar o seu.Se acha que é loucura,não importa a razão,eu a deixarei livre.Mas por favor nunca, nunca se esqueça de mim.

[ 12 ] Brasília, 02/05/94 Poeta

Quando senta o poeta
à escrivaninha repleta,
não apenas palavras busca,
mas também informações e emoções,
sentimentos e opiniões.
Então, inicia o poeta
a excitante luta,
a admirável labuta
pela rima correta,
ou pelo verso que dela se liberta,
mas sempre pela poesia completa.
O poeta é um condenado,
eterno perdedor,
pois quando fica a poetar,
muito deixa de viver,
sem participar,
e quando da rotina tem de cuidar,
muito deixa de trabalhar,
aprender, lapidar,
transmutar e criar.
Mas algumas vantagens
cada poeta tem:
seu viver é um barato,
não precisa ser magnata
nem financista,
apenas um criativo artista:
vive cheio de esperança,
e coisas boas traz na lembrança;
respira energia,
dorme em paz,
se só o bem faz,
exala alegria,
dança na luz,
é transbordante de poesia
e, com felicidade, a muitos contagia;
em alguns dias, ao menos, a poesia
lhe serve de companhia,
não como uma pessoa comprada,
mas de graça
e sem ameaça;
vive cada dia
como se fosse o primeiro,
de inocência cheio,
e o último,
pleno de humildade,
após tanta experiência
na arte de viver de verdade.
Ser poeta não é apenas
o talento para escrever,
é um modo de vida,
um jeito de ser:
forte na briga,
trabalhador como uma formiga,
arisco como um golfinho,
leve como um passarinho,
espalhafatoso como um marreco,
imprevisível como um corisco,
contente como uma foca,
humilde como uma minhoca,
alegre como um flamingo,
sensível como um violinista,
eterno como o universo,
puro como a luz,
deslumbrante como uma ave
que sai do ninho,
livre como a vida.

[ 13 ] Brasília, 02/05/1994.

Free

“I know your plans don’t include me.This time is our last time,you will be free.Wherever you’re livingwhenever you’re dreaming,whatever you’re enjoying,whoever you’re loving,you can be sure,I’ll be rooting for you.I’ll also be dreaming,enjoying and loving,wherever I am, without you,never forgettingthose wonderful hours with you.Just you and meall over the world,it’s now just impossible;now it’s all over.You’ll probably travel aloneall around the world.We can perhaps cross our waysin London, Paris or LA.Whatever country we visit,whatever language we speak,I hope I’d never fakethe great love I still feel,because you have changed my world,my life, my future and my will,you, my darling girlfriend,whose beauty has no end.If we still had a chance,I would ask you in a glance:what’s your will?But now, be at will,use your free will,remain joyful, happy and free. LivreSei que os seus planosnão me incluem.Este é o nosso último encontro,você ficará livre.Onde quer que você esteja vivendo,sempre que você estiver sonhando,o que quer que você esteja apreciando,quem quer que você esteja amando,pode ter certeza,estarei lhe expressando o meu apoio Também estarei sonhando,apreciando e amando,onde quer que eu esteja, sem você,nunca esquecendoaquelas horas maravilhosas com você.Só você e eupor todo o mundo,é simplesmente impossível agora;agora está tudo acabado.Você provavelmente viajará sozinhapelo mundo todo.Talvez os nossos caminhos possam se cruzarem Londres, Paris ou L. A.Qualquer país que visitemos,qualquer língua que falemos,espero nunca fingiro grande amor que ainda sinto,porque você mudou o meu mundo,a minha vida, o meu futuro e a minha vontade,você, querida namorada,cuja beleza não tem fim.Se ainda tivéssemos uma chance,eu lhe perguntaria de relance:qual é o seu desejo?Mas agora, fique à vontade,use o seu livre arbítrio,Permaneça alegre, feliz e livre.

[ 14 ] Brasília, 04/05/94. Missionário

Incógnito e disfarçado,
ou descoberto e identificado,
sai o mensageiro,
peregrino, sacerdote,
tentando ser forte,
para cumprir sua missão de porte,
levar uma mensagem de vida,
não de morte.
Cada um tem o direito
e o dever de saber
o que passou,
o que é,
o que há por fazer.
Ledo enganado comete
quem sobre a vida não reflete
e leva a vida
como aceita a morte,
sem muitos pensamentos
sobre o ser e o existir,
sobre o azar e a sorte.
Quem bastante darma tem
quase sempre faz o bem;
mas quem muito carma traz
também não fica para trás.
Cada um tem ao lado companhia
que nunca lhe abandonará um dia,
que antes de si mais perto da perfeição chegou,
mas porque muito trabalhou,
agüentou forte e firme,
cumpriu sua parte no time
dos seres divinos e humanos,
respeitando, amando e auxiliando
os seres da natureza
e os seres elementais,
os seres angélicos
e os animais,
sempre com muita pureza,
admirando a divina beleza
em tudo e em todos,
espalhando bem-estar e luz,
felicidade e paz.
Não interessa o que você hoje sofre.
Suporte! Seja nobre!
Labute com coragem e confiança,
nunca perca a esperança
pois todos temos muito em comum,
principalmente, Deus como criador,
o tempo eterno,
o universo infinito,
a evolução incessante
e a maravilhosa bem-aventurança.

[ 15 ] Brasília, 04/05/1994. Evolução

Chega de banalidade,
sem verdade,
vamos construir algo interessante,
deveras nobrificante.
Esqueçamos o fogão quente,
o rádio estridente,
o trânsito perigoso,
o asfalto ardente,
o namorado, o esposo,
o amante solicitante.
Cuidemos agora,
muito mais ainda,
da inevitável e necessária evolução;
canalizemos nossa interna ebulição
para tudo que nos compraz,
mas com amor e paz,
sempre ajudando nosso irmão
que nos pede pão.
Nada será em vão,
mas sim útil a cada um,
com os outros em união,
pois “um são todos,
e todos são um”.
“Um por todos
e todos por um”.

[ 16 ] Brasília, 05/05/1994. Liberdade

Insubordinação, revolta,
greve, motim, rebeldia,
justa e sadia,
liberdade sem volta.
Não mais há dono, amestrador,
chefe ou censor,
patrão, proibidor,
bedel, punidor,
espião ou penetra,
guarda, agente duplo,
vigia ou policial,
porteiro ou recepcionista.
Cada um não mais se apresenta
como um número ou código impessoal
numa fria lista de presença
de seres indiferentes,
vazios ou ausentes.
Não há teto nem grade,
porta ou grade,
cadeado nem algema,
coação ou ameaça,
medo e insegurança,
apenas coisas, seres e astros,
o tempo e o espaço,
infinito, sideral,
puro e povoado de alma
nosso lar ideal e real,
onde se constrói um mundo novo,
e uma vida mais ativa,
benéfica e livre.

[ 17 ] Brasília, 05/05/1994. Artista

De onde tira o artista
tanta criação bonita,
nova e diferente,
relevante e interessante?
Ora, o artista é como um polvo gigante:
toda matéria-prima ele encontra
em seu próprio ser
ou a retira de qualquer parte,
com seus longos tentáculos,
enormes e potentes.
Assim ou assado,
o humilde e irrequieto artista
é sempre guiado
por uma mente curiosa e ativa,
infatigável e construtiva.
Qualquer que seja
o meio de expressão,
ele tenta conjugar
a forma adequada e bela
ao conteúdo significativo, importante.
Na roda-viva da criação artística,
do brainstorming e da insônia,
do tempo curto e da exaustão,
da satisfação pelo criado,
da esperança pela próxima criação,
obra-prima ou singela composição,
tenta o artista sobreviver e viver,
como todo cidadão,
mas também busca a descoberta e a invenção,
a inovação e o deslumbramento,
a plenitude e os momentos de êxtase,
alegria e pura felicidade,
que para todos deveria ser natural,
fácil e permanente.
Reações adversas sempre desperta,
mas quem de modo algum deseja
ser alvo de crítica e inveja,
que não se arrisque,
nem petisque.

[ 18 ] Brasília, 13/05/1994. Fidelidade

Ah! De quanta bondade
fui merecedor nesta tarde
e noite a dentro;
muito ardente
e muito mais solitário,
sem carinho fiquei,
mas muito ganhei;
passei por prova de fogo,
transmutei-o
e deixei-o queimar
minha mente,
meu egoísmo e minha pressa,
minha luxúria e desonestidade.
Um pouco ainda me enganar tentei,
mas depois cedi à verdade,
e vi como é simples e fácil
fazer a coisa certa,
praticar a fidelidade.
Menina de Arraial do Cabo,
te chamei ao telefone,
me despedi com teu nome,
me lembrei do teu perfume,
quase de frustração,
gritei para extravagar a vontade
de sentir prazer,
de tudo fazer,
de contigo vencer a insatisfação.
E foi assim, sem ti,
que venci a mim,
mesmo sem querer,
quase por inércia,
pra não enlouquecer.
Uma vez ou outra te chamei,
mas nada aconteceu.
Parece que usei a razão,
sublimei a matéria, a energia,
e a forte emoção;
não cedi à tentação,
escolhi ter só a ti,
mesmo que só depois,
mas com a cara limpa
e a consciência leve.
Muitas vezes, fingir é preciso,
até para si mesmo,
fingir ser correto, forte,
racional e inteligente;
que bom que, ás vezes,
o fingimento dá certo:
tira-se força da fraqueza,
honestidade da desonestidade,
dignidade da vileza,
ânimo do cansaço,
paz da intranqüilidade,
e o bem de tudo,
pois tudo tem a mesma fonte,
basta mudar a polaridade.
Ah!, que felicidade,
sentir prazer na fidelidade!
Gozar da paz de espírito,
amar a cara-metade,
dar muito de si
e nada esperar,
caminhar por aí,
viver servindo
e servir vivendo.

[ 19 ] Brasília, 05/06/1994. Revolução

Lá vai o pobre soldado,
lá vai o coitado cidadão,
como o primeiro, preso
por um soldo
de poucas moedas,
vivendo com pouco gozo
um cotidiano insosso.
Seu sofrer é inestimável,
mas sua vida é impagável.
A solda que prende
o soldado e o cidadão
a essa quase escravidão
é barata e pegajosa
fruto de muita brincadeira sem graça
da elite que disfarça,
que finge não ver o povo;
só ela tem o tesouro,
que com mãos ávidas agarra,
e só ela manuseia a tesoura
que nosso suprimento corta,
só ela tem a faca
para repartir o bolo, entre si.
Mas a fome é muita,
é mãe da revolução,
e tão cega quanto a justiça,
a elite e a injustiça.
Ninguém perde por esperar,
pois tudo vai passar,
tudo virá,
tudo mudará.

[ 20 ] Brasília, 13/06/1994. O Ato de Escrever Redação Oficial

Nunca te vi
sempre te temi.
Por longo tempo te evitei,
mas foi em vão,
a ti me entregarei.
A necessidade do emprego,
na hora do desespero,
levou-me à via crucis
dos cursinhos,
aos cursos preparatórios
enganatórios ou expiatórios.
Redação oficial,
Oficial de Chancelaria,
Escola Nacional,
Administração Pública,
muita coisa para nós nova,
importante, vital.
Mais um degrau
na escola da vida,
mais umas linhas
no curriculum vitae.
Belo e interessante
modo de trabalhar,
com a língua brincar
ou a um manual se sujeitar.
Mas, se é para o bem
da Administração Pública
e da felicidade geral da nação,
vale a pena
aprender novas noções,
redigir memorandos,
ofícios e notas,
cartas e aides-memoire.
Se para redação oficial
tenho talento,
não é aqui que o demonstrarei,
mas em breve saberei.

[ 21 ] Brasília, 16/06/1994.

Leçon et des EnnuisNous en avons marre;nous sommes ennuis.Quelle belle leçonpour “faire dormir les boeufs”.On veut jeter des oeufssur le prof,on rêve de sa propremaison.Chez nous, nous alons trés bien,mais ici, nous ne voulous plus rien,seulment laisser la classe,arrêter d’écrire, d’étudier,arriver à la fin de cette saisonde torture pédagogique.Nous ne sommes pas ensemblepour toujours,mais on souffre toujours,seuls ou ensemble,partout.Des leçons et des ennui,c’est la vie. Aula e tédioNós já estamos cheios disso,estamos entediados.Que bela aulapara boi dormir.A gente que jogar ovosno professor;A gente sonhacom a nossa própria casa.Em casa, estamos muito bem,mas aqui, não queremos mais nada,mas apenas deixar a aula,parar de escrever, de estudar,chegar ao fim desta sessãode tortura pedagógica.Não estamos juntospara sempre,mas a gente sofre sempre,sós ou juntos,em todos os lugares.Aula e tédio,é a vida.


[ 22 ] Brasília, 17/06/1994.

FemmesAlice, Aline,Stephane, Caroline,Lygia, Jaqueline,elles sont toutesde petites étoilesdans le ciel,dans mon paradis.Parfois, je reste sans motspour exprimer leurs douceur, beauté,chaleur, amitié;mais je suis toujours plein de sentiments,d’émotions,qu’elles m’ont donnés.Je veux beaucoup aider,servir et aimer,pour rétribuertout ce que j’ai reçu.J’ai envie de me jeterdans leurs bras,d’arrêter de souffrir, pleurer.Chacune d’elles me donne l’espoiret la forcepour continuer,vivre et vaincre.Chaque jourcomme un petit oiseau,je me jete dans leurs feux,pour resurgircomme un phénixgrand et rapide,beau et libre. MulheresAlice, Aline,Stephanie, Caroline,Lygia, Jaqueline,são todaspequenas estrelas no céu,no meu paraíso.Às vezes, fico sem palavraspara expressar a sua doçura, beleza,o seu calor e amizade,mas estou sempre cheio dos sentimentos,das emoções,que elas me deram.Quero muito ajudar,servir e amarpara retribuirtudo que recebi.Tenho vontade de me jogaraos seus braços,de parar de sofrer, chorar.Cada uma delas me dá a esperançae a forçapara continuar,viver e vencer.Cada dia,como um pequeno pássaro,me jogo ao seu fogopara ressurgircomo uma fênix,grande e célere,belo e livre.

[ 23 ] Brasília, 20/06/1994. Injustiça

Açaí, acerola,
cupuaçu, graviola,
arroz, feijão,
leite e pão,
comida de verdade
de que o povo precisa,
não de promessas em vão,
não do sujo pão
que o diabo amassou.
Esperança de sobra,
muita união,
pra sobreviver de sobras,
morrer de fome ou sede,
viver em desnutrição.
Xi! Tem criança demais
na fila da escola,
não é bicho, mas gente
que tortura sente,
e às vezes desmaia
diante da salvação temporária,
miserável e diária;
um paliativo eterno?
Nem tanto, cuidado,
a submissão tem pavio curto,
só falta a gota d’água
pra entornar o caldo
da injustiça.
Puxa, são crianças demais,
pequenos palafitas
num mar de fartura
aqui e ali oculta,
mas por toda parte exposta;
aqui e ali exibe-se a riqueza,
vergonhosamente para nós,
pois a maioria não pode pegar,
sentir nem possuir,
muito menos beber, comer.
Sempre que pode,
a gente todos
e a gente-nós
enche o bucho
de feijão e sopa,
arroz e macarrão,
não por prazer
mas por fome e prevenção:
amanhã terá mesa posta?,
família unida na mesa da copa?,
ou na sala de jantar?,
assistindo a um jogo da copa,
um noticiário nacional,
um filme vulgar,
ou só deixando o tempo passar?
“Deixe estar
pra ver como fica”?
Aí você vai piorar;
não se preocupe não,
depois piora.
Com essa distribuição de renda,
não dá nem pra merenda;
salário indigno,
contando cada tostão,
olha só que tristeza,
que perigo!,
lamentável situação,
a revolução há muito
está no caldeirão.
Balança mas não cai,
sofre e não reclama,
apanha mas não revida,
nem sempre será assim,
a injustiça terá seu fim.
Que mundo bonito
a terra será,
que tempo maravilhoso
pra ser livre,
quando a justiça estiver na moda
e a todos alcançar;
o nosso viver será simples,
fácil e feliz,
como abraçar-se e se beijar,
dançar, cantar,
dar as mãos
e caminhar.

[ 24 ] Brasília, 21/06/1994. Vida

À medida que leio o texto
e acompanho a aula
vem-me um desejo desmedido
de viver sem medida,
romper os limites,
quebrar as regras
abolir os metros,
horas e medidas, vencer os desafios,
ser tudo,
mas ser simples, viver fácil,
não precisar de nada
e ser feliz.
Na medida em que o tempo passa,
as coisas passam por mim,
eu passo por coisas e por seres,
por energia e matéria,
carne e cabelos,
mergulho nos olhos de meus amores,
tentando não perder a alegria,
viver uma vida serena,
sem ansiedade nem medo,
e compensar o sofrimento
com sua companhia,
gente divina e humana,
feliz e bondosa,
gente maravilhosa.

[ 25 ] Brasília, 21/06/1994. Começo

Mês de abril,
época de frutificação
de uma mínima parte
de minha divina essência,
começo da explosão
de muita coisa que estava em gestação,
quando se abriu
a porta da criação e a veia poética
se revelou.

[ 26 ] Brasília, 21/06/1994. União

Vem, vamos juntos abrir
uma janela para o infinito,
mergulhar no prazer da eternidade,
passear na mente de Deus,
descobrir os segredos do universo,
construir um mundo mais bonito,
espalhar, ao nosso redor, prosa e verso,
fazer da vida uma nobre arte,
e sorrir a todo nosso semelhante,
pois cada um
é um valioso diamante
que sua luz irradia,
de noite e de dia,
no inverno e no verão,
no amor e na guerra,
pois nem só de flores
vive o ser humano.
Nascido de mulher,
na carne sofredor,
por este mundo responsável,
mostre nele também
seu grande valor.
Dê asas à imaginação,
viva uma nova encarnação
importante e diferente,
dê vazão à pura poesia
inerente ao seu ser,
una-se ao seu irmão
e nunca o abandone não,
pois o homem ser gregário
é fator hereditário.
Ma, mulher, mater,
Ra, homem, pater,
Nós, grande família,
em longa viagem
nesta bela ilha,
por esta linda láctea via.
Ra e Ma
um ao outro se amarram
e, como uma rama
de erva daninha,
por instinto ou por amor,
rápidos se reproduzem
e a raça humana conduzem pelo cosmos-luz.
Você nunca estará sozinho,
basta sentar-se num cantinho,
relaxar e ficar calminho,
ou chorar e rezar,
chamar alguém,
em pensamento,
ou só pensar em um irmão,
colega ou amigo,
conhecido ou parente,
encarnado ou não,
ou mesmo em mim,
por que não?

[ 27 ] Brasília, 22/06/1994. Japão

Iquebana, canji,
chodô, bonsai,
teatro nô, cabuqui,
sumirê, tatami,
judô, quimono,
hapi, chadô,
campai!
Sinceramente, arigatô!,
Virtuosa gente
do exótico Nippon.
vamos juntos descobrir
muitas raras jóias,
todas entre si desiguais.
Vamos comer com dois
Leves pauzinhos,
Meditar em templo xintoísta,
viver zen,
viver bem,
comer sushi e sashimi,
chabu-chabu e suquiáqui,
sobá udan,
moiachi e oconomiaqui,
beber ban-chá e saquê,
escrever haiku ou haikai,
tomar sauna, ofurô,
fazer reverência, odoqui,
e andar de trem-bala,
sentar no chão escasso
e dormir em pé,
onde não houver mais espaço,
dizer “bom dia”ao carteiro-san,
ohaiogozaimassu,
“boa noite” à gueixa,
oiassumimassai,
e sempre sem queixa,
nós também.
Assim como eles
trabalhemos com afinco,
pra não levar uma vida vã.
Por favor, onegaichimassu,
desculpe-me, sumimassem,
mas amanhã será um novo dia
(transborde alegria)
também na terrado sol nascente,
onde se serve muito bem
e não se aceita gorjeta,
onde muito se labuta
e não se pede esmola,
onde, já cedo de amanhã,
pratica-se muita coisa boa e sã,
no verão ou no rigoroso inverno,
na bela primavera ou no outono,
trezentos e sessenta e cinco dias por ano.
Fraternalmente, arigatô.
Paz e amor,
héia, ai.

Vocabulário

ai. Amor.
aiquidô. Técnica de defesa pessoal que tem origem no jiu-jítsu e que ensina a neutralizar o antagonista ou a aparar golpes de um ou mais adversários.
arigatô. Obrigado.
ban-chá. Chá verde.
banzai. Interj Viva!
bonsai. 1. Árvore decorativa anã, cultivada em vasos baixos, e obtida por métodos especiais (como poda das raízes, condução dos galhos, etc.) a partir de espécimes normais.
2. A arte de cultivar tais árvores.
bunca. Casa de madeira.
campai. Interj. Saúde!
canji. Alfabeto ideogrâmico japonês.
cavai. Bonitinha, bonitinho.
chabu-chabu. Culinária. Cozido.
chadô. Ritual do chá.
chodô. Arte da caligrafia japonesa.
cocorô. Coração abstrato; mente-coração.
haikai. Arte Poét. Poema japonês constituído de três versos, dos quais dois são pentassílabos e um, o segundo, heptassílabo.
haiku. Arte Poét. Poema lírico japonês constituído de dezessete sílabas distribuídas em versos não-rimados, de cinco e sete sílabas.
hapi. Quimono para festivais.
héia. Paz.
hiragana. Alfabeto silábico japonês.
iquebana. Arte japonesa de arranjo de flores com regras tradicionais.
iucata. Quimono de verão.
judô. Jogo esportivo de combate e defesa, que se baseia na agilidade e flexibilidade do jogador, e inspirado nas técnicas do antigo jiu-jítsu.
matsuri. Festivais populares.
moiachi. Broto de feijão.
Nippon. Japão.
oconomiaqui. Omelete frito com carne e repolho.
odigui. Reverência.
ofurô. Banho quente japonês.
ohaiogozaimassu. Interj. Bom dia!
oiassuminassai. Interj. Boa noite!
onegaichimassu. Por favor.
origami. Arte de objetos de papel.
quimono. Túnica longa, cruzada na frente, de mangas largas, sem costura na cava, e que é usada no Japão pelos dois sexos.
sashimi. Culinária. Fruto do mar cru.
san. Senhor.
saquê. Bebida alcoólica de arroz.
sobá. Culinária. Macarrão.
sushi. Culinária. Enrolado peixe cru com arroz.
sumimassen. Desculpe-me.
suquiáqui. Culinária. Refogado.
tatame. 1. Esteira retangular, feita de palha de arroz, usada, nas casas japonesas, para cobrir o chão.
2. P. ext. Esteira sobre a qual se pratica o judô.
teatro nô. 1. Uma das primeiras manifestações teatrais do Japão, originada no séc. XIV, sob a forma de dramas líricos representados durante funções religiosas nos festivais xintoístas, e que se caracteriza pelo simbolismo, pelo lirismo, pelos movimentos altamente estilizados dos atores, que obedecem a convenções cênicas permanentes e tradicionais, pela forma solene e ritualística, pela presença de personagens míticas ou humanas, mortas ou vivas, concretas ou abstratas, e pela atuação exclusiva de homens, inclusive na representação de papéis femininos; nô.
udan. Macarrão.

[ 28 ] Brasília, 22/06/1994. Dorila Alice

Dorila Alice,
tranqüila, beleza tríplice,
corpo, espírito e mente.
Gostaria de ser forte
como um gigante gorila,
para te carregar nos braços,
sustentar e proteger,
eliminar qualquer obstáculo
que entre nós se erguer,
e levar-te de volta
ao país das maravilhas.
Exótica como uma oriental,
sensual como uma chinesa,
habilidosa como uma italiana.
Graciosa como só você
sabe ser,
como pode juntar
tanta qualidade
num único ser.
Única entre as mulheres,
Nunca merece estar só.
Continue sempre especial,
a cada segundo,
mas jamais seja egoísta:
por favor, permita
a um humilde e simples
homem normal,
ser seu amigo,
privilegiado querido.

[ 29 ] Brasília, 31/06/1994. Auto-retrato

Uma criatura divina,
dual, bem e mal,
divina e humana,
bem ou mal,
em parte efêmera,
enquanto existente,
bem real,
sempre
do verdadeiro ser
dependente,
este, sim,
sempre eterno,
imortal.
Não faz mal,
eu estou
o que estou sendo,
e EU SOU
o que EU SOU.
Cada um na sua
e todos na mesma,
única vida,
tudo no mesmo todo,
uno, original.
Quase sempre fico aqui,
em mim
(ou deveria fazê-lo)
ou nesta persona,
um ser pensante,
humano, errante,
errado, mutante,
um vivente buscando,
um sem igual,
um átomo do Criador,
minúsculo sofredor,
ativo,
portanto criativo,
criador
de sua própria vida,
e dor,
mas do próprio prazer
e esplendor;
ou não um insignificante,
inútil sei lá o que,
pois tudo o que é
significa e serve,
mas sou um digno,
porém humilde,
filho de Deus.

[ 30 ] Brasília, 08/08/1994. Verdade

Ei, e a verdade?
Sei lá!
Preciso saber, entende?
Tenho de procurá-la?
Talvez sim.
Ela está em toda parte;
mesmo que não queiras encontrar,
ela vai te assustar,
te acordar,
com violência ou sutileza,
depressa ou devagar,
vai te devorar
e jogar contra o muro
da tua ira e do teu orgulho
e da tua vaidade,
inveja e avareza,
covardia, gula,
luxúria e preguiça,
até que superes ou abandones
teu perfeccionismo equivocado,
tua falsa generosidade,
tua falsidade, a falsa necessidade,
teu distanciamento, tua dúvida,
teu charlatanismo,
tua vingança e resignação.


[ 31 ] Brasília, 14/08/1994. Cláudia

Cláudia, noite e dia,
à noite, brilha,
de dia, irradia,
mas sempre expande
a beleza que lhe é peculiar.
Como o sol e a lua,
vamos dançar
num baile sem máscaras,
a todos mostrar
que belo par
podemos formar.
Apesar do orgulho
e da falsa generosidade,
da fixação em grandiosidade,
da fuga da carência
e da histeria,
tu és mais do que uma mulher
do tipo dois.
Sei que tu
vales por duas,
ou mais,
mas decerto te apraz
a outro te somar.
Com verdadeira generosidade,
aceita a seta de cupido
que este guloso sete
deseja que te acerte.
A dois se une ao sete;
ambos os nove tipos
já conhecem,
todos entre si
se merecem,
se enriquecem.
Como serão dois e sete,
Juntos, somados,
na terapia e na terra,
no amor e na guerra,
no lar e na família,
na solidão e no espaço?
Pacientes cortejadores,
finos sedutores,
alegres conquistadores,
corajosos mutantes,
bem falantes,
melhores amantes.
Velhos conhecidos?
Futuros amantes?
À noite, fora do corpo,
livres, a gente se procura
e se acha,
se abraça e repete
o eterno ato de amor.
Almas gêmeas,
ou apenas almas irmãs...

[ 32 ] Brasília,14/08/1994. Eneagrama da personalidade

Eneagrama, que drama.
Personalidade, quanta falsidade.
Teia ardilosa, pegajosa.
Trama enrolada,
duradoura roda de samsara.
Predizível, neurótico e compulsivo
comportamento humano,
às vezes, espetáculo ridículo.
Cada número, um tipo;
cada paixão, uma fixação;
cada fuga, uma tentação.
Obscurecimento do ser,
auto-enganação.
Redescobrimento, autoconhecimento,
evolução e libertação.

[ 33 ] Brasília, 31/08/1994. Amor

Amor, esperança, amado;
amante esperando sentado:
trabalho, lar, estudo,
restaurante, bar, boate, tudo.
Todo amador,
sofrimento e dor,
paixão, ciúme,
sacrifício, medo,
inveja e rancor,
erro sem maldade,
prisão e liberdade,
união, separação,
mentira, verdade,
alegria e felicidade.

[ 34 ] Brasília, 18/10/1994. Ana Cristina

Ana Cristina,
doce irmã,
beleza não-vã,
anã de maldade,
gigante bondade,
genuína cristã.
Fiel no amor,
justa na guerra,
compassiva na dor
e do prazer conhecedora,
reflete como a lua
a luz do sol,
mas mantém firme
os pés na terra.

[ 35 ] Brasília, 09/11/1994. Ilusão

Cai o lírio,
sobe o lótus,
morre o corpo,
renasce o espírito,
decai a vida,
sobrevém a morte,
evolui a persona até a cósmica soma
das virtudes
e idéias divinas.
Não há soma humana
que se compare à multiplicação frenética
do universo matemático.
Quanta vã acumulação diante da múltipla
e infinita ação:
criação, sustentação.
Cúmulo de ignorância,
burrice e ganância,
perdição,
renunciar à ação,
correr atrás da arca do tesouro,
sentar sobre um baú de jóias,
matar a felicidade
com um golpe de mestre,
viver para morrer
e deitar no caixão,
falecer a cada dia de uma vida
de paixão e ilusão.

[ 36 ] Brasília, 01/12/1994. Engano

Semente, muda,
planta, mudança,
mente, corpo,
arte, dança,
vida longa,
arte também,
vida eterna,
vai e vem,
até quando
não convém
nem agrada,
sem vintém,
sem nada,
com tudo
por fazer,
ou dor
rei ou súdito,
ovelha ou pastor.
Oh, quanto horror,
pânico e pavor,
gente louca,
pessoas anestesiadas,
muito clamor,
revólver, faca,
clava e machado
que corta
a carne, a dor,
a consciência e a vida.
Gente miúda,
pobre, ignorante,
imprudente,
burra e sofrida,
estraga a vida,
não a dignifica.
Ah, que vergonha,
não ser alegre e feliz,
sábio e inteligente,
prudente e simples,
evolutivo, aprendiz.
É bom
ter gana de ganho,
material, espiritual,
mental, intelectual,
cultural e emocional.
Ganha quem tem gana,
gana de vida e prazer,
de amar e fazer.
Ganha aquele
que a ninguém engana,
mas que colabora e ama.

[ 37 ] Brasília, 11/12/1994. Humano

Paixão, chão,
chã ilusão,
dor em vão,
viver na solidão,
amor sem paixão,
sexo sem união.
Muito é em vão,
e assim vão-se muitos anos
que poderiam ser mais dourados
não fosse o estorvo
de nossa visível imperfeição,
inevitável, abrangente.

[ 38 ] Brasília, 04/02/1995. Brasília

Brasília, ilha Brasil,
te louvo como a minha pátria,
ambiente anil,
brasa viril,
caldeirão espiritual
de gente amável e hostil.
Brasília, ilha indestrutível,
máscara-maravilha,
estrutura plena e vazia,
ilha sem mar,
fruto de um sonho
caído do céu
de quem soube amar.

[ 39 ] Brasília, 17/02/1995. Ego

Betina ina,
humano imã,
faminta menina,
quanto queres conhecer
do meu pequenino ser,
quanto conseguirás inalar
do meu aroma particular,
quanto poderás perceber
do meu imenso prazer,
do meu horrível sofrer?
Porém, ajuda não peço,
apenas aceito e agradeço.
É mais doce dar
do que receber.
Se quem recebe fica grato,
houve algo errado.
Talvez só te dê
uns poucos gramas
de minha humilde parte
da prisão do eneagrama.
Lamentável estado,
arrastado enfado,
vicioso círculo
do qual busco a ruptura
sem em mim provocar fratura
ou do ego a inevitável morte.
Tarefa inglória,
não nego,
mas como rebelde nato
ainda um pouco
em vão me debato
antes do último ato,
ato de entrega e dor?
Talvez eu,
por ser o único e melhor
eu mesmo que eu sou,
somente com prazer e amor
realizarei!

[ 40 ] Goiânia, 11/03/1995. Auto-retrato (2)

Branco e puro
como esta folha
é como serei?
Sem escolha?
Seria
o rascunho do projeto
do meu ser?
Humilde o bastante
para aceitar,
forte o suficiente
para continuar,
e conquistar as qualidades
e capacidades de mim mesmo?
Mesmo que esse caminho
muito me custe,
recursos e tempo,
dinamismo e arrependimento,
desespero, revolta
e sofrimento?
Sempre persisto,
ou seria o universo
que em mim persiste,
como um eterno poeta,
que sempre tece mais verso?
Poesia é cria,
cria do homem
que tudo desafia,
que sempre mais cria,
ou que só imita,
reproduz e transforma.
Melhor do que nada,
ao menos a algo dá forma,
apesar de repetida,
continua na lida.
Assim é a vida:
ação, continuação,
transformação e renovação.


[ 41 ] Brasília, 15/03/1995 e 12/05/1996. Outros lugares

Estrelas brilham,
iluminam o firmamento.
Penso nelas,
recobro um pouco o ânimo.
De debaixo delas,
meu corpo nunca se ausenta,
pois não consegue voar,
mas a elas meu ser às vezes se dirige
logo após eu me deitar.
Durante o sono,
liberta-se a mente
e vivo em meio a seres
doutros lugares.
Não fosse a tarefa em curso,
abandonaria este vital discurso
e a eles me juntaria
Porém, nobre é não apenas a missão,
como também sua aceitação.
Assim, continuo,
um viajante, buscador,
animado, desanimado,
que vai e volta,
cai e levanta,
e continua, continua...

[ 42 ] Brasília, 05/04/1995. Céu

Da Terra, o céu
é como um véu
que os segredos
do paraíso encobre;
é como enorme esponja
que com suas águas
nossas mágoas lava;
é como um aspirador
que suga nossa lamúria,
depressão e angústia.
Só de pra ele olhar,
vai embora o tédio,
que à latente alegria
cede o seu lugar,
pra gente não mais
em vão reclamar.
Será que outras coisas boas
além da chuva
dele provêm?
Bençãos e energia,
amor e harmonia,
misericórdia e paz?

[ 43 ] Brasília, 08/04/1995. Miséria e dor

Ana Maria,
ria, sorria,
dê-me uma cria
do seu belo ser;
faça o amor renascer
em quem já esqueceu
a alegria de viver.
Há muito esqueci
para que nasci;
vivo de ilusão e esperança
de recuperar uma vida
de que nem tenho lembrança.
Às vezes, passo sem comida,
mas não tenho sobrevida
sem a companhia, o amor e a amizade.
Vazio no mundo,
errante no amor,
acertando a dor,
finjo não ver o meu pavor,
para não cair no desespero
e fugir sem despedida,
mas para tanto não tenho coragem.
A fuga seria a suprema vergonha
de uma pessoa já arrependida.

[ 44 ] Brasília, 26/04/1995. Oração

Ó Deus, Ó Pai,
que belo dia
em que me deste a vida.
Ó todo maravilhoso,
obrigado pelo dia gostoso
e pela especial companhia
de tanta gente séria,
de benéfica influência.
O sofrimento natural,
também o aceito
com gratidão igual,
pois nele não há mal total.
Ó Mestre, dá-me tua mão!
Não me deixes nunca não,
pois tu és meu caro irmão
sem o qual não viveria
ou viveria em vão.
Guia dos meus dias,
companheiro de minhas noites,
o ser mais próximo de Deus que conheço,
recebe este pequeno filho
da minha gratidão e do meu mero amor.

[ 45 ] Brasília, 30/04/1995. Nina

Filomena, carina,
bela menina,
suave amante,
forte terapeuta
em franca arrancada
para a grande virada,
para a necessária aposta
no jogo da vida.
Cansei-me
de não sei o quê,
e você me ajudou
a descobrir ao menos por quê.
Vem, vamos viver
o resto, o restante,
um monte,
vamos beber na fonte
do nosso ser incessante,
inesgotável e forte.
Vá se tornar
uma pessoa de porte,
trabalhe, estude,
sirva e lute,
pois a vida
é nosso mais nobre esporte.

[ 46 ] Brasília, 30/04/1995. No uno, n’uno, Nuno

Nuno, uno,
belo ser luminoso,
jovem sempre,
que duas espadas porta,
com que corta, defende e faz.
Medito e sorrio,
ansioso e curioso
pelo que a vida me oferecerá
e pelo que conquistarei;
Será um véu, um livro, um amor,
um inferno ou um paraíso?
Paciente, espero.
É, cada vez mais, me esmero
na arte da esperança e da paciência,
a ciência da paz.
Quanto mais vivo,
mais me aprofundo
no mistério do meu interno mundo,
mais me aposso

da consciência do que posso,
devo, mereço,
aprecio e quero.
Às vezes, muito me esforço,
e, estranho, nada ganho;
mas, às vezes, apenas me sento
e deixo fluírem,
como o vento,
sabedoria, amor e alegria.
No uno, n’uno, Nuno,
meu próprio divino ser amado,
sem o qual não seria
nem o buscador, nem o caminho,
nem a dor, nem o carinho,
nem o pó, nem nada.

47 - ÁÐÀÇÈËÈß, 30/05/1995.ÂÀÈÍÀ È ÌÈÐÌÍÅ ÏÎÐÀ ÏÎÉÒÈ ÄÎÌÎÉ,ÍÎ ß ÍÅ ÂÈÆÓ ÄÎÌÀ ÌÎÉ.ÃÄÅ ÏÐÀÂÄÈÂÛÉ ×ÅÄÎÂÅÊ?ÅÌÓ ÍÅÊÎÃÄÀ ÆÈÒÜ,ÏÎÇÒÎÌÓ ÎÍ ÓÌÈÐÀÅÒ.ÃÄÅ ÌÎÉ ÌÈÐ?ÌÎÅÃÎ ÌÈÐÀ ÍÅÒ ÁÎËÜØÅ.Ó ÌÅÍß ÂÎÏÐÎÑÛ Ê ÂÀÌ:ÇÒÎ ÂÀÌ ÍÐÀÂÈÒÑß?×ÒÎ ÇÒÎ ÇÍÀ×ÈÒ?ÂÛ ÍÅ ÇÍÀÅÒÅ.ÄÀ, ß ÇÒÎ ÏÎÍÈÌÀÞ;ß ÍÅ ÇÍÀÞ ÒÎÆÅ.ÏÎÇÒÎÌÓ ß ÒÓÒ ÆÈÂÓ,ÏÎÒÎÌÓ, ×ÒÎ ß ÕÎ×ÓÂѨ ÇÄÅÑÜ ÏÎÍÈÌÀÒÜ,ÏÎÌÈÐÈÒÜÑßÈ ÆÈÒÜ Â ÏÎÊÎÅ,È ÊÐÎÌÅ ÒÎÃÎ, ÂÑÅÃÄÀ ÆÈÒÜ. [ 47 ] Brasília, 30/05/1995Guerra e pazEstá na hora de eu ir para casa,mas não vejo casa minha.Onde está a verdadeira pessoa?Ela não tem tempo de viver,por isso ela morre.Onde está o meu mundo?O meu mundo não é mais, não mais existe.Tenho perguntas a você:Isso agrada a você?Que isso significa?Você não sabe.Sim, compreendo isso;não sei também.Por isso, aqui vivo,porque querotudo aqui compreender,fazer as pazese viver em paz,além de sempre viver.


48 - ÁÐÀÇÈËÈß, 30/05/1995.ÑÂÎÁÎÄÀÌÍÅ ÍÅ ÍÓÆÍÎÐÓÑÑÊÈÉ ßÇÛÊ ÈÇÓ×ÀÒÜÍÈ ÏÅÑÍÞ ÏÅÒÜ,ÍÎ ÌÍÅ ÍÐÀÂÈÒÑßÂѨ ÇÒÎ ÇÍÀÒÜ.ÇÒÎ ÌÍÅ ÍÅ ÇÀÏÐÅØÑÍÎ,ÍÎ, ÄÀ, ÇÒÎ ÑÂÎÁÎÄÍÎ ÂÎÇÌÎÆÍÎ.×ÒÎ ÍÓÆÍÎ ÍÀÌ?ÍÅ ÂѨ, ÊÎÍÅ×ÍÎ.ÍÎ ÓÆÅ ÌÍÎÃÎ, ÄÀ.×ÒÎ ÂÀÌ ÕÎÒÅËÎÑÜ ÁÛ?ÇÒÎ ÕÎÐÎÕÎ?ÅÑËÈ ÄÀ,ÈÒÀÊ, ÂÛ ÇÒÎ ÌÎÆÅÒÅÑÂÎÁÎÄÍÎ ÄÅËÀÒÁ. [ 48 ] Brasília, 30/05/1995LiberdadeNão me é necessárioa língua russa estudarnem uma canção cantar,mas me agradatudo isso saber.Isso não me é proibido,Mas, sim, livremente permitido.Que nos é necessário?Tudo não, claro.Mas já muito, sim.De que você gostaria?Isso é bom?Se sim,Então, você pode issoLivremente fazer.

[ 49 ] Brasília, 12/06/1995. Relutância

Fardos, sombras,
pesos do meu ego
que há muito carrego
sobre teimosos ombros,
séculos a fio.
O meu ser me desafia
a superar a minha personalidade,
mas, quase sempre arredio,
ainda um pouco faço esperar
a redenção do meu ego voraz,
pois me desculpo e reluto,
me irrito, justifico e luto
pelo meu difícil ideal
de amar sem sofrer
de viver sem morrer.

[ 50 ] Brasília, 16/06/1995. Felicidade

Tomo um banho de luz
do meu ser que me produz.
Enquanto reluz,
lentamente me induz
a um bem que me seduz:
a paz que sempre quis,
o amor que lhe ofereci,
a chance de ser feliz.
A espera me dá ânsia,
mas pouco me objeto,
pois cultivo a paciência,
mesmo que só no intelecto.


[ 51 ] Brasília, 16/06/1995. Amor (2)

O amor que lhe ofereci
não era mera proposta,
mas espontânea resposta
ao que houve entre nós:
o meu mais puro sentimento.
que aumenta com o tempo
e não se vai com o vento.

[ 52 ] Brasília, 05/07/1995. Viver

Você já tem vida,
o mínimo que deve fazer
é viver.
O viver sustenta a vida.
O processo sustenta o estado.
A atividade sustenta a existência.
Pare para relaxar, meditar,
pensar e compreender;
pare para chorar, rir,
doar e amar,
mas não pare,
não pare de viver.
A gente pode viver;
a gente merece,
quer e vai viver.
Vai ser bom continuar vivendo.
Viva!

[ 53 ] ÁÐÀÇÈËÈß, 06/07/1995.ÆÈÇÍÜ (4)ÊÀÊÈÌ ß ÇÀÂÒÐÀ ÁÓÄÓ?ÊÀÆÄÛÉ ÄÅÍÜ ß ÏÐÀÑÛÏÀÞÑÜ.ÑÅÃÎÄÍß, ÑÅÉ×ÀÑ,ß ÆÈÂÓ ÅÙ¨ ÐÀÇ.ß ÒÎÒ, ÊÀÒÎÐÈÉ ËÞÁÈÒ ÆÈÒÜ,ÄÀÆÅ ÊÎÃÄÀ ÆÈÒÜ Î×ÅÍÜ ÒÐÓÄÍÎ.ÍÎ ÆÈÇÍÜ ×ÀÑÒÎ ÈÌÅÅÒ ÌÍÎÃÎ ÑÒÐÀÄÀÍÈÅ,È ÈÍÎÃÄÀ ß ÏÎ×ÒÈ ÍÅ ÒÅÐÏËÞ.ËÀÄÍÎ?ÌÍÅ ÊÀÆÅÒÑß, ÍÅÒ.ÎÄÍÀÊÎ ß ÏÐÎÄÎËÆÀÞ,ÒÀÊ ÊÀÊ ß ÍÅ ÕÎ×ÓØÒÐÀÔ ÆÈÇÍÈ. [ 53 ] Brasília, 06/07/1995Vida (4)Como eu estarei amanhã?A cada dia, eu acordo.Hoje, agora,vivo mais uma vez.Eu sou aquele que gosta de viver,mesmo quando viver é muito difícil.Mas a vida freqüentemente tem muito sofrimento,e, às vezes, eu quase não suporto.Tudo bem?Parece-me que não.Porém, eu continuo,pois eu não querouma multa da vida.

[ 54 ] Brasília, 1/07/1995. Amor (3)

A maçã do amor caiu,
rolou pelo abismo,
à beira do paraíso.
Do lado de cá,
amor ainda há,
mas não impera;
pouco dele restou;
é uma lei que não pegou.
Eu próprio desconheço
o amor como obrigação;
é um princípio que pratico
independente de rei.
Tudo que é obrigatório, decretado,
logo gera desgosto, enfado,
caminho para a revolta,
que impõe destruição e caos,
ou nova ordem.
Amor espontâneo e gratuito,
perene ou fortuito,
é sempre melhor, mais gostoso,
contagiante e farto.

55 - ÁÐÀÇÈËÈß, 11/07/1995.ÄÀÂÀÒÁ È ÏÀËÓ×ÀÒÜÂÑÅÃÄÀ, ÍÅ ÂÀÆÍÎ ÃÄÅ ÒÛ,ß ÌÎÃÓ ÌÎÞ ËÞÁÎÂÜ ÒÅÜÅ ÏÎÑÛËÀÒÜ.ÒÛ ÊÐÀÑÈÂÀß, ÑÍÀÐÓÆÈ È ÂÍÓÒÐÈ.ÌÍÅ ÂÎÇÌÎÆÍÎ ÐÀÂÍÎÂÅÑÈÅÌÅÆÄÓ ÄÀÂÀÒÁ È ÏÎËÓ×ÀÒü-ÊÎÃÄÀ ß ×ÒÎ-ÍÈÁÓÒÜ ÏÀËÓ×ÀÞ,ÇÒÎ ÍÐÀÂÈÒÑß ÌÍÅ;ÊÎÃÄÀ ÒÛ ×ÒÎ-ÍÈÁÓÒÜ ÄÀ¨ØÜ,ÒÛ ÁÎËÜØÅÉ È ËÓ×ØÅÉ;ÊÎÃÄÀ ß ÌÅÍß ÄÀÞ ÒÅÁÅ,ß ÄÀÂÎËÅÍ È Ñ×ÀÑÒËÈÂ.ÊÎÌÓ ÄÀÂÀÒÜÑß?ÊÎÌÓ, ÊÎÒÎÐÎÃÎ ËÞÁßÒ. [ 55 ] Brasília, 11/07/1995Dar e receberSempre, não importa onde você está,eu posso o meu amor lhe enviar.Você é bonita, por fora e por dentro.Para mim, é possível o equilíbrioentre dar e receber:quando eu recebo algo,isso me agrada;quando eu dou algo,eu sou maior e melhor;quando eu me dou a você,fico contente e feliz.A quem dar-se?Àquela pessoa que se ama.


[ 56 ] Brasília, 14/07/1995.

Lost FreedomI used to be free.In my freedomI could not seeall I could be,destroy and build.In that freedomI did all I wanted,even if risky, stupid,thoughtless, exaggeratedright or wrong.In my lost freedomI led myself to prison.I regret having doneall I wanted to do,and I regret having beenall I wanted do be.Self-imprisionmentis the worst of all,full of pain and sorrow,panic without tomorrow. Liberdade perdidaEu costumava se livre.Na minha liberdade,não podia vertudo que podia ser,destruir e construir.Naquela liberdade,fiz tudo que queria,mesmo que arriscado, estúpido,impensado, exagerado.Na minha liberdade perdida,conduzi-me à prisão.Arrependo-me por ter feitotudo que queria fazer,e arrependo-me por ter sidotudo que queria ser.Auto-aprisionamentoé o pior de todos,cheio de dor e tristeza,pânico sem amanhã.


57 - ÁÐÀÇÈËÈß, 16/07/1995.ÓÄÈÂËÅÍÅÈÍÎÃÄÀ ß ÄÓÌÀÞ,×ÒÎ ÑÒÎÈÒ ÆÈÒÜ,×ÒÎ ÅÑÒÜ ÑÏÀÑÅÍÈÅ,×ÒÎ ß ÌÎÃÓ ÁÛÒÜÏÎËÍÎÑÒÞ Ñ×ÀÑÒËÈÂ,ÅÑËÈ ÂѨ ÁÓÄÅÒÊÀÊ ß ÕÎ×Ó,ÑÎÃËÀÑÍÎ ÌÎÅÉ ÂÎËÅ.ÍÎ ß ÏÓÃÀÞÑÜ,ß ÍÀÏÎËÍßÞÑÜ ÑÒÐÀÕÎÌ,ÑÒÛÄÎÌ È ÁÎßÇÍÜÞ,ÊÎÃÄÀ ß ÆÅËÀÞ×ÅÃÎ-ÍÈÁÓÄÜ ÈÑÏÎÐ×ÅÍÍÎÃÎ,ÇËÎÃÎ, ÎÒÐÈÖÀÒÅËÜÍÎÃÎ,È ÄÀÆÅ ÊÎÃÄÀß ÒÎËÜÊÎ ÏÐÈÄÂÈÃÀÞÑÜ ÊÒÎÌÓÆÅËÀÒÜ ×ÅÃÎ-ÍÈÁÓÄÜ ÒÀÊÎÃÎ. [ 57 ] Brasília, 16/07/1995.AssombroÀs vezes, eu pensoque vale a pena viver,que existe salvação,que eu posso ser completamente felizse tudo for como eu quero,conforme a minha vontade.Mas eu me espanto,eu me encho de horror,vergonha e medoquando eu desejo algo perverso,mau, negativo,e até quandoeu apenas me aproximo de desejar algo assim.


58 - ÁÐÀÇÈËÈß, 19/07/1995.ÇÍÀ×ÅÍÈÅ ÆÈÇÍÈÌÍÎÃÎ ËÞÄÅÉ ÃÎÂÎÐÈÒ,×ÒÎ ÇÍÀ×ÅÍÈÅ ÆÈÇÅÈ ÎÁÙÎÅ ÐÀÇÂÈÒÈÅ;ÄÐÓÃÈÅ ÃÎÂÎÐßÒ,×ÒÎ ÎÍÎ ÑÀÌÎÇÍÀÍÈÅ,ÈËÈ ÑÀÌÎÑÎÇÍÀÍÈÅ;ÍÅÊÎÒÎÐÛÅ ÅÙ¨ ÃÎÂÎÐßÒ,×ÒÎ ÇÒÎ ÁÛÒÜ ÏÎËÍÛÌ;È ÃÎÂÎÐßÒ ÒÀÊÆÅ,×ÒÎ ÇÒÎ ÑÎÒÐÓÄÍÈ×ÀÒÜ Ñ ÏËÀÍÎÌ ÁÎÃÀ.ÌÍÎÃÎ ËÞÄÅÉ ÍÅ ÇÍÀÅÒ ÇÍÀ×ÅÍß ÑÂÎÅÉ ÆÈÇÍÈ,ÈËÈ ÎÍÈ ÄÊÌÀÞÒ,×ÒÎ ÎÍÈ ÇÒÎ ÍÅ ÇÍÀÞÒ,ÈËÈ ÎÍÈ ÍÈÊÎÃÄÀ ÍÅ ÄÓÌÀËÈ ÎÁ ÇÒÎÌ.ÅÑËÈ ÊÒÎ-ÍÈÁÓÄÜ ÍÀÕÎÄÈÒÑß ÒÀÊÎÌ ÊÐÈÒÈ×ÅÑÊÎÌ ÏÎËÎÆÅÍÈÈ,ÎÍ ÄÎËÆÅÍ, ßÑÍÎ,ÈÑÊÀÒÜ ÑÂÎÅÉ ÆÈÇÍÈ ÇÍÀ×ÅÍÈÅ.ÈÒÀÊ ÇÒÎÒ ÏÎÈÑÊÏÎÊÀ ÇÍÀ×ÅÍÈÅ ÆÈÇÍÈ.ÑËÅÄÎÂÀÒÅËÜÍÎ ÎÍ ÁÓÄÅÒ ÑÊÀÒÅËÅÌ,ÊÀÊ ÁÎËÜØÈÍÑÒÂÎ ÍÀÑ,ÄÀÆÅ ÅÑËÈ ÍÅÑÎÇÅÀÒÅËÜÍÎ.ÌÍÅ ÁÎËÜØÅÅ ÇÍÀ×ÅÍÈÅ ÆÈÇÍÈ ÇÒÎ ÏÐÎÑÒÎ ÆÈÒÜ,ÒÀÊ ÊÀÊ ÂÊËÞ×Àß ÒÅÕÊÎÒÎÐÛÅ ÓÆÅ ÏÎÑÒÈÃËÈ ÒÅÕ ÖÅËÅÉ,ÈÌ ÍÓÆÍÎ ÏÐÎÄÎËÆÀÒÜ ÆÈÒÜ.ÓÆÅ ÂѨ ÃÎÂÎÐÈËÈ.ÍÀÌ ÒÎËÜÊÎ ÓÌÅÑÒÍÎ ÆÈÒÜ! [ 58 ] - Brasília, 19/07/1995Sentido da vidaMuitas pessoas dizemque o sentido da vidaé a evolução geral;outros, que é o autoconhecimento,ou a autoconsciência;outros ainda dizemque é ser completo;e dizem tambémque é colaborar com o plano de Deus.Muita gente desconhece o sentido da sua vida,ou pensa que o desconhece,ou nunca pensou sobre isso.Se alguém se encontranesta crítica situação,deve, é óbvio,buscar o seu sentido da vida.Então, essa busca será,por enquanto,o seu sentido da vida.Conseqüentemente, será um buscador,como a maioria de nós,mesmo que inconscientemente.Para mim, o maior sentido da vidaé, simplesmente, viver,pois até aquelesque já alcançaram aquelas metasprecisam continuar vivendo.Já disseram tudo.Só nos cabe viver!


59 - ÁÐÀÇÈËÈß, 21/07/1995.ÆÈÇÍÈ (5)ÑÊÎËÜÊÎ ÂÀÌ ËÅÒ?ÊÎÃÄÀ ÂÛ ÐÎÄÈËÈÑÜ?ÌÍÅ ÄÂÀÄÖÀÒÜ ØÅÑÒÜ ËÅÒ.ß ÐÎÄÈËÑß Â ÒÛÑß×À ÄÅÂßÒÜÑÎÒ ÑÅÌÈÄÅÑßÒÎÌ.À ÅÌÓ ÎÄÈÍ ÃÎÄ.ÏÎÑËÅÄÍÈÉ ÇÒÎÒ ÅÙ¨ ÍÅ ÃÎÂÎÐÈÒ;ÎÍ ÍÅ ÂÎÇÂÐÀÙÀË ÑÅÁÅ ÐÀÇÂÈÒÎÉ ÍÌ ÎÏßÒÜ.ÈÇÂÈÍÈÒÅ ÌÅÍß, ÏÎÆÀËÓÉÑÒÀ,ÍÎ ß ÑÌÈÐÅÍÍÎ ÍÅ ÌÎÃÓ Ñ ÂÀÌÈ ÑÎÃËÀÑÈÒÜÑßÞÂѨ ÇÒÎ ÍÅÂÀÆÍÎ,ÍÈ×ÅÃÎ ÇÒÎÃÎ ÏÐÀÂÄÀ.ÊÀÆÄÛÉ ×ÅËÎÂÅÊ ÍÅÌÍÎÃÎ ÑÒÀÐØÅ×ÅÌ ÅÃÎ ÑÎÂÐÅÌÅÍÍÎÅ ÒÅËÎ.ÂÛ ÈÌÅËÈ ÍÀ×ÀËÎ,ÍÎ ÂÛ ÍÅ ÁÓÄÅÒÅ ÊÎÍ×ÀÒÜÑß;ÂÀØÅ ÁÓÄÓÙÅÅ ÍÅ ÈÌÅÅÒ ÊÎÍÖÀ,ÂÛ ÈÌÅÅÒÅ ÁÅÑÏÐÅÄÅËÜÍÓÞ ÆÈÇÅÜÞ.ÂÛ ÁÅÑÊÎÍÅ×ÍÛ,ÎÄÍÀÊÎ ÍÅ ÂÅ×ÍÛ.ÂÛ ÁÅÑÑÌÅÐÒÍÛ! [ 59 ] Brasília, 21/07/1995.Vida (5)Quantos anos você tem?Quando você nasceu?Tenho vinte e seis anos.Nasci em mil novecentos e setenta.E ele tem um ano.Este último ainda não fala;ainda não recuperou novamente uma mente desenvolvida.Desculpe-me, por favor,mas, humildemente, não possoconcordar com você.Tudo isso é desimportante,nada disso é verdade.Cada pessoa é muito mais velhado que o seu corpo atual.Você teve início,mas você não terminará.O seu futuro não tem fim.Você é infindável,mas não eterno.Você é imortal!


60 - ÁÐÀÇÈËÈß, 24/07/1995.ÂÎËß È ÓÌÂÛ ÐÀÑÑÒÐÀÈÂØÈÉ?ÂÀØ ÓÌ ÍÅ ÎÑÒÀÍÀÂËÈÂÀÅÒÑß?ÎÍ ÂÀÌ ÍÀÍÎÑÈ ÓÙÅÐÁ?ÎÍ Î×ÅÍÜ ÂÏÅ×ÀÒËÈÒÅËÅÍÈ ÂÀÑ ÍÅ ÎÑÒÀÂÈ Â ÏÎÊÎÅ?ÂÀÌ ÑËÅÄÓÅÒ ÓÑÏÎÊÎÈÒÜÑß.ÍÅ Ñ×ÈÒÀÉÒÅ ÑÅÁß ÂÈÍÎÂÀÒÛÌ.ÂÛ ÍÅ ÂÈÍÎÂÀÒÛ ÂÎ ÂѨÌ,×ÒÎ ÓÌ ÂÇÈÌÀÅÒ ÈËÈ ÄÅËÀÅÒ.ÂÎËß ÁÎËÅÅ ÂÀÆÍÀ,×ÅÌ ÓÌ.ÄÓÌÀÉÒÅ, ÐÅØÀÉÒÅÑÜ, ÏÎÑÒÓËÀÉÒÅ.ß ÂÛÓ×ÈË ÏÎ ÒßƨËÎÌÓ ÎÏÛÒÓ,×ÒÎ, Ñ ÒÅ×ÅÍÈÅÌ ÂÐÅÌÅÍÈ,ÓÌ ÏÎÂÈÍÎÂÀÅÒÑß ÂÎËÅ,ÑÎÁÑÒÂÅÍÍÎÌÓ ×ÅËÎÂÅÊÓ.ÍÀÑÒÎÈ×ÈÂÎ ÂÛ ÁÓÄÅÒÅ ÄÎÁÈÂÀÒÜÑß ÓÑÏÅÕÀ.ÈÒÀÊ ÍÅ ÑÒÅÑÍÀÉÒÅÑÜ.ÓÌ, ÈËÈ ÓÌÑÒÂÅÍÍÎÅ ÒÅËÎ, ÎÐÓÄÈÅ,ÏÎÂÎÇÊÀ, ÑÐÅÄÑÒÂÎ ÑÓÙÅÑÒÂÎÂÀÍÈß,ÂÀØÀ ×ÀÑÒÜ.ÍÎ ÂÎËÅ ÍÓÆÍÎ ÏÐÅÎÁËÀÄÀÒÜ.ÂÎÇÌÎÆÍÎ ÂÎËßÂÀØÀ ÑÀÌÀß ÂÀÆÍÀß ×ÀÑÒÜ. [ 60 ] Brasília, 24/07/1995.Vontade e menteVocê está perturbado?A sua mente não se detém?Ela lhe causa prejuízo?Ela é muito sensívele não o deixa sossegado?Você precisa acalmar-se.Não se considere culpado.Você não é culpado por tudoque a mente percebe ou faz.A vontade é mais importantedo que a mente.Pense, decida-se, aja.Aprendi, por árdua experiência,que, com o passar do tempo,a mente obedece à vontade,à própria pessoa.Com persistência, você obterá êxito.Então, fique à vontade.A mente, ou o corpo mental,é um instrumento, um veículo, um meio,uma parte sua.Mas a vontade deve prevalecer.Talvez seja elaa sua parte mais importante.

[ 61 ] Brasília, 29/07/1995.

UngewissheitSo gut wie es sein kannLebte einmal ein Mann.Er konnte kaum glauben,wie glücklich er war,und er merkte nicht die Grösse des Gutes,das er dadurch streute,durch die Verteilung von Glücklichkeit.Aber er wusste auch nichtsvon seiner vernichteten Zukunft.Was ihm geschehen wurde,kann man nur schwach ausdrücken,zu weit von der Wirklichkeit.Nennen wir es einfach Irrtum,das fast immer zum Böse und Leiden leidet.Man konnte nicht das VerhältnisZwischen seinem Benehmen und seinem Zustand sehen.Das Seelische ist ja unsichtbar.Der Stillstand seines Lebens war bedauerlich;es war fast ein Rückschritt.Es ist manchmal schade, aber wahr,dass man noch etwas erleben kann.Zum Leben gehört ja viel Überraschung.Gibt es kein Sicherkeit?Kein Gewissheit? IncertezaTão bem quanto possível,vivia, certa vez, um homem.Mal podia acreditarem quão feliz era,e não percebia a grandeza do bemque por meio disso espalhava,por meio do compartilhamento de felicidade.Mas tampouco sabiado seu aniquilado futuro.O que lhe aconteceriasó fracamente se podia expressar,longe demais da realidade.Chamemo-lo simplesmente de erro,que, quase sempre, conduz ao male ao sofrimento.Não se podia ver a relaçãoentre o seu comportamento e o seu estado.As coisas espirituais são mesmo invisíveis.A estagnação da sua vida era lamentável;era quase um retrocesso.Às vezes, é uma pena, porém verdade,que ainda se possa passar por maus bocados.À vida pertence realmente muita surpresa.Não há segurança?Nem certeza?

[ 62 ] Brasília, 20/09/1995. Renascimento

Quem não sabe inventa
e a muitos contenta.
Com essa humilde esperança,
escrevo estas linhas,
substitutas da lembrança.
Do muito que vivi,
o mais importante do que fiz
foi aquilo que imaginei,
inventei, criei.
Quase nada concreto,
quase tudo abstrato,
intelectual, mental, incerto,
mas por certo interessante,
prazeroso e até útil,
nem que seja
para passar o tempo,
ocupar a vida,
já que o tempo não passa,
não termina,
nem a vida,
que também renasce,
talvez até do nada,
como cada ser consciente.

[ 63 ] Brasília, 25/09/1995. Bem Estar

Calma, meditante!
Alce leve vôo,
como um gigante da mente.
Desfrute o presente,
o prazer da alegria,
o desapego por qualquer
ente ou instante
e, assim, conquiste a harmonia
como um estado quase permanente.
Viva na mente e no corpo
e prove ao seu medíocre ego
que você pode atuar em qualquer plano,
astral, físico, mental...
e estar sereno e amigo,
acompanhado ou simplesmente consigo.



[ 64 ] Brasília, 12/01/1996. Poeta (2)

O poeta é um ser
tão livre quanto pode haver.
Livre, liberto,
libertário, libertado,
poetou
e se autolibertou.
Situação frágil,
utópica, difícil,
no limite do possível;
conflito enorme
com a realidade inflexível.
Luta diária,
que se torna vício,
devido à dor, à endorfina,
ao prazer e à adrenalina.
O poeta vive de desafio.

[ 65 ] Brasília, 03/03/1996. Natureza

Que sol causticante!
Sou realmente um ser impotente
ante a necessidade autoritária
da natureza não-dialogante.
Fosse eu menos forte, paciente e tolerante,
já teria sucumbido ao desespero,
à loucura e à desistência,
por levar uma vida como tal.
A solução é harmonizar-me com o tao,
o fluxo da natureza,
aceitar a insegurança e a incerteza,
e, com certeza, tentar viver.

[ 66 ] Brasília, 17/03/1996.

WiederaufbauErst scheinte es mir unmöglich,das Leben weiterführen zu können,nach dem Miserfolg meiner Taten.Schwach und fast irrsinnig,ergab ich mich verzweifeltder Wiederausgleichung.Jetzt erstaunt,es teilweise erreicht zu haben,versuche ich ebendeshalb noch mehr.Der Irrtum hatte einen Sinn:jetzt bin ich weniger halsstarrig und schwachsinnig,aber bescheiden und noch mehr ausdauernd,stärker und vorsichtiger;immer mit der Nützlichkeit,die Mitteln und Zielen verbindet,im Sinn gehalten,suche ich die Bedeutung des Lebens,versuche ich zu leben. ReconstruçãoPrimeiramente, parecia-me impossívelcontinuar a viverapós o fracasso das minhas ações.Fraco e quase louco,dedicava-me, desesperado,à reequilibração.Agora, surpresopor tê-la conseguido parcialmente,por isso mesmo, tento mais ainda.O erro tinha um sentido:agora sou menos teimoso e imbecil,mas modesto e ainda mais persistente,mais forte e cuidadoso.Tendo sempre em mente a utilidade,que liga os meios aos fins,procuro o sentido da vida,tento viver.

[ 67 ] Brasília, 23/03/1996. Imperfeição e vida

Quem é você?
Que você pensa, quer e faz?
Se é pouco,
ou pouco vale,
você se satisfaz?
Talvez nem devesse
se satisfazer,
mesmo que fosse muito.
Satisfeito, contente, perfeito,
nada mais haveria pra fazer,
pensar, querer, viver.
Não será a imperfeição
a causa da continuação?
A busca pela evolução
e pela perfeição,
ilusória ou impossível,
ao menos serve de nobre ocupação,
de meio eterno
que torna possível
o fim supremo da vida: viver.

[ 68 ] Brasília, 24/03/1996.

DuIch will dir etwas sagen;ich kann dir sogar etwas geben,wenn du es willst.Schau mal an!Es ist ja nicht so schlecht;es wird sich ändern;du kannst es verändern,freilich und vielleicht schnell,aber mit Anstrengungen,selbstverständlich.Du kannst es vielfach probieren,auf unendliche Weise.Sei weise!Pass gut auf es auf!Hör nicht auf!Es löhnt sich ja,sicherlich, zweifellos,weil es das einzige,was du hast, ist.Nicht alles ist Los.Viel hängt von dir ab.Also, geh los!Lös dich von Kleinigkeiten los!Such deine Lösungen!Und… mach’s gut!Ich meine es im Ernst,weil es für mich wichtig ist.Ich habe dich lieb,und lieber lebendig.Mach dich wichtig!Du bist ja für mich wichtig.Trotz allem, zu glauben brauchst du nicht,nur probieren. VocêQuero dizer algo a você;até posso lhe dar algo se você quiser.Olhe só!Ela não é tão ruim assim;ela se modificará;você pode transformá-la,livremente e talvez rapidamentemas com esforços,obviamente.Você pode experimentá-la muitas vezes,de infinitos modos.Seja sábio!Preste bastante atenção nela!Não desista!Vale a pena sim,seguramente, sem dúvida,pois ela é a única coisaque você tem.Nem tudo é acaso.Muito depende de você.Então, avante!Livre-se de mesquinharias!Procure as suas soluções!E... boa sorte!Falo sério,pois isto é muito importante para mim.Gosto de vocêe, de preferência, vivo.Dê-se importância!Você realmente é importante para mim.Apesar de tudo, você não precisa acreditar,apenas experimentar.

[ 69 ] Brasília, 02/06/1996.

TugendenSie hatte alles,was sie wollte,war schön und geliebt.Sie nannte sich als fröhlich und positiv.Sie wusste sich nicht zu lassen vor Glück.Sie hielte das Leben für einfach und leicht.Sie fühlte sich verpflichtet,diesen Zustand zu verewigen.Wer ist so eine Person?Aber nicht über allen Gipfeln war Ruh.Als sie eines Morgens erwachte,fand sie sich zu einem Armer verwandelt,in allen Sinnen.Es war ihr eine zu schwere Verwundung.Das Äussere war ihr Schatz;der Mensch blieb tugendlos.Jetzt leidet sie an Stress,ist traurig und unglücklich.Und Sie?Erziehungsvoll ist ja diese Verwandlung. VirtudesEla tinha tudoque queria,era bela e amada.Dizia-se alegre e positiva.Não se cabia de felicidade.Achava a vida simples e fácil.Sentia-se na obrigaçãode eternizar esta situação.Quem é uma pessoa assim?Mas nem sobre todos os cimos havia calma.Certa manhã, ao acordar,encontrou-se transformada em uma pessoa pobre,em todos os sentidos.Foi-lhe um ferimento grave demais.As coisas externas eram o seu tesouro;o ser humano ficou sem virtudes.Agora ela sofre de estresse,é triste e infeliz.E você?É realmente educativa esta metamorfose.

[ 70 ] Brasília, 04/07/1996.

WirWir schauen Sterne im All,wir wissen nichts von aller Welt,wir kissen Lippen allein,und das ist alles.Das alles ist zur Zeit genug,weil wir alle notwendige Zeit haben,das ewige Jetzt,die beste Zeit,und die wichtigsten Seiende,ich, du, er, sie… NósNós olhamos estrelas no universo,não sabemos nada sobre o mundo todo,beijamos lábios sozinhos,e isto é tudo.Tudo isto é suficiente, por enquanto,pois temos todo o tempo necessário,o eterno agora,o melhor tempo,e os seres mais importantes,eu, você, ele, ela...

[ 71 ] San José (Costa Rica), 10/09/1996.

L’amourElle couche avec lui,même s’il n’est pas gentil.Ils s’embrassent doucement,au moins pour un moment.Ces sont les symboles de leur amour?Un amour désirable?Un amour passé, futur?Un amour jamais trouvé? AmorEla se deita com ele,mesmo se ele não é gentil.Eles se abraçam docemente,ao menos por um momento.São estes os símbolos do amor deles?Um amor desejável?Um amor passado, futuro?Um amor jamais encontrado?

[ 72 ] Brasília, 25/12/1996. Humano

Mas que compasso de pensamento!
Neurótico, obsessivo,
paranóico, psicótico,
louco, esquizofrênico,
libertino, compulsivo.
Por onde passa a minha mente fria,
nem sempre agüenta o meu emocional,
passional, quente,
igualmente descontrolado, desequilibrado.
Resolver problema tão difícil,
sofrido, perigoso,
só se gênio eu fosse.


[ 73 ] Brasília, 31/05/1997. Mente

A locomotiva da mente
carrega o conteúdo do pensamento
na forma dada pela fôrma
dos vagões da linguagem.
Surpreendentemente, percorre o universo
sem sair do lugar,
sem nada concreto tocar,
vôa às alturas do geral
e de lá para o particular,
explode o perigoso caldeirão
infernal da crença
e atinge mortalmente a certeza
com a dúvida metódica.
Elabora teorias,
muitas vezes loucamente,
é verdade,
tenta tudo refutar,
mas, infelizmente, também mente.
Eta interessante trem voador,
o ser humano.

[ 74 ] Brasília, 31/05/1997.

LebenInhalt des Lebensins Gedicht verwandelt.Gedanke des Menschensals Kunst ausgedrückt.Dichtung verdichtet.Willen, Hoffnung, Versuch, Tätitkeitermöglichen das Leben. VidaConteúdo de vidatransformado em poema.Pensamento do ser humanoexpresso como arte.Poesia condensada.Vontade, esperança, tentativa, atividadepossibilitam a vida.

[ 75 ] Brasília, 22/01/1998. Cáctus

Parece que essa planta é simples,
fácil de se cuidar
e talvez boa para alguma coisa,
como gostaríamos que nós e nossas vidas fossem,
e como eu gostaria de ser para você;
mesmo que eu não o seja,
sei que a amo
e que a amarei,
talvez sempre.



[ 76 ] Campo Grande/MS, 07/10/2001. Rolfing

Ida à rolfing-sessão
começou com medão.
Ir lá era adiado,
pois a dor era afirmada;
mas ela veio pouca,
às vezes, até gostosa.
Cá me alonga a rolfista,
puxa uma ponta da fáscia
desfigurada por uma vida disjuntiva.
Para ter um tecido conjuntivo
todo organizado,
só mesmo um trabalho nada fácil
sobre um torto teimoso.
Tô todo entregue,
quase totalmente despido
e pacientemente passivo.

[ 77 ] Brasília, 03/06/2003. Rap da Karla

A Karla vive num mundo de luz
e é também uma luz no mundo,
do Super-universo Número Sete.
Ela se senta e medita e sai daqui
como foguete que a NASA não tem;
Mer-ka-ba, e já tá lá
em qualquer lugar que imaginar:
Alcione, Saturno e Órion,
Sirius, Serpens e Salvington
Ofiucus, Arcturo e Nebadon.
Na postura de lótus,
se cala e vira a super-Karla.
Ela sai daqui
mas não fica de fora,
ela bebe a sabedoria de Sedona, no Arizona.
Ela é uma Flor da Vida,
é uma flor da minha vida;
decidida e forte, ela se inicia,
e continua, terna, eterna,
contínua, contínua, contínua ...
A Karla é rap,
a Karla é happy.

[ 78 ] Brasília, 19/06/2003. Sintonia

Mal te vi,
um olhar aqui, outro ali,
já te quis.
Mal te conheci,
já me lembrei
do bem que há em ti.
Intuí, desconfiei,
que bom que acertei.
Mal te amei,
já bem te fiz
pra gente ser feliz.
Mal me dou,
já sei que sou em ti,
mais em ti e mais em mim,
vivo assim a nos cobrir
e descobrir,
por amor e pela luz,
puro amor, para a luz
que cobre o nosso amor.

[ 79 ] Brasília, 04/09/2003. Evolução

Calma, falcão,
que vive sem asas
neste mundo-cão.
Muito melhora
quando cada um se aprimora.
Você tem nas mãos
as chaves da ascensão.
Se a inteligência é seu guia,
em quase ninguém confie,
use a razão e a prudência
para vencer os desafios.

[ 80 ] Brasília, 04/09/2003. Ser-en-o

Ser-en-o,
ser em zero,
res non nata,
a origem nádica de tudo,
para onde se retorna,
renascido
após milhões de mergulhos
nos rios da vida,
cuja substância enterra,
queima, molha e seca
as ilusões de cada célula de Deus.

[ 81 ] Brasília, 14/09/2003. Alguma Luz Mais Alta

Quando caía,
alguma luz mais alta me apoiava,
me levantava
e me empurrava pra frente.
Quando sofria,
me dizia “aprenda”.
Quando queria morrer,
me lembrava
de que não valeria a pena,
pois mais ainda sofreria,
e me dizia “espere”.
Ao recobrar o entusiasmo,
me advertia:
seja prudente,
você ainda sabe pouco,
errará e sofrerá muito mais;
busque o equilíbrio
e busque-me,
a sua própria alma.

[ 82 ] Brasília, 25/12/2003. O luxo de estar bem

Não podemos nos dar ao luxo
de estar mal,
senão, quem manifestará o Graal
Pois a Terra separa o joio do trigo
também pelos nosso estados emocional e mental.
Não precisa ser ladrão, assassino, marginal
nem desejar ao próximo o mal
para cair na vala comum da negatividade
e ficar mais distante da bondade ideal.
Basta não estar bem
que se está mal!
E doente, feio, pequeno e mau.
Deixemos cair a ficha
de que as maiores provas de cada um
são os seus próprios defeitos.
O voto da positividade incondicional façamos hoje –
trabalhemos quando não houver emprego,
estudemos mesmo sem provas,
ensinemos ao ignorante e ao sábio,
demos o perdão aquele que não o pediu,
amemos apesar do desamor alheio.
Não nos demos ao luxo de estar mal,
pois isso é darmo-nos ao lixo.
Demo-nos, então,
ao luxo de estar bem!

[ 83 ] Brasília, 28/12/2003. Mestre-irmão

Desbrava a Terra
e vence o mal,
descerra o véu
e ganha o céu.
Ri demais
e ama mais ainda,
para o bem geral.
Você sempre será especial,
Mestre imortal,
cuja pura semente da alegria
nos toca o coração.
O seu sagrado nome
é mantra, melodia e mel,
amada irmã, amado irmão.

[ 84 ] Brasília, 11/04/2004. Numérico

Sete empolga
até a perfeição
diminuída neste mundo
decimal.
Não ser um zero na vida,
ser dez,
e representar a Terra,
cento e quarenta e quatro mil vezes
gloriosa e bela.
Reunificar a dualidade
no uno infinito
que se desdobra na criação:
são estrelas e esferas
que emitem
energia,
luz,
som,
om.

[ 85 ] Brasília, 26/09/2004. S Q

Sem que eu previsse,
mais uma questão decidi,
que por tanto tempo adiara,
sobre a qual muito meditara.
Fraqueza, fracasso e frustração,
livros, estímulos e perguntas,
dicas, conselhos e broncas,
pressões, reclamações e brigas,
cursos, sugestões e críticas,
ajudas, curas e terapias,
por nada me movera,
nunca decidira
e, por pouco, quase morrera.
Sabia que algo me faltava,
que só eu proveria
e, de fato, sou eu que o provê.
Esse quê tão perseguido
só pôde ser atingido
quando também o meu emocional
desejou servir ao outro,
sem deixar de cuidar de mim.
O mental já refletira,
quisera e decidira servir,
mas não tinha prazer, energia e força.
Difícil esse processo,
só que resultou num recompensador salto quântico,
em que a realidade percebida é o resultado da vontade do observador.

[ 86 ] Brasília, 14/05/2005. Conquistando a vida

Vejo nos seus olhos
o reflexo do meu sorriso.
Sinto nos nossos corações
a pulsação do nosso amor.
Percebo no seu corpo
o tato do nosso contato.
Cheiro na sua pele
o perfume dos nossos hormônios.
Desenrolo nos seus cabelos
a trama da minha vida,
pois o seu exemplo
me ensina a viver.

[ 87 ] Brasília, 02/11/2005. O Ser

A cada frase que decoro,
fico mais repetitivo e menos criativo.
A cada assunto não-afim a mim que estudo,
fico mais auto-alienado
e menos livre.
A cada característica minha, virtuosa ou não,
que não reconheço,
fico menos autoconsciente
e mais reprimido.
Ah! Como é prazeroso
sentir-me eu mesmo,
aqui e agora,
livre e consciente, criativo e inteligente,
aceitar-me, respeitar-me, amar-me, cuidar-me,
e recomeçar sempre a fazer essas coisas
em relação a mim e aos outros,
porque freqüentemente me esqueço do essencial,
que não é as coisas,
mas o ser que faz as coisas.



[ 88 ] Brasília, 30/11/2005. Profissão

Quero desenterrar os meus talentos
para servir a contento,
mas parece difícil conciliar
talento com sustento.
Onde mais tento?
Se professor, sinto-me exposto,
se tradutor, mal pago, estressado,
se filósofo, distante do espiritual,
se psicoterapeuta, aquém das habilidades exigidas,
se escritor, tenho algo a dizer?
Sou suficientemente criativo?
Avalio-me de modo modesto?
Ou muito rigoroso?
Sou preguiçoso?
Ou apartado dos objetivos?
Mudanças sempre haverá.
Mas hoje, como continuo mudando,
a que nova profissão devo me dedicar?

[ 89 ] Brasília, 28/12/2005. Arte (2)

No banho me limpo,
relaxo, me solto,
e me deito
nos braços da arte
em que me deleito.
Se as coisas são o que são,
só me resta acrescentar
a minha porção.
Se as pessoas são o que são,
só me resta conviver
com parte da multidão.
Na arte me sinto
burro e ignorante,
mas vivo, inteligente e criativo.
Inútil para as coisas práticas
mas útil para a subjetividade,
no mínimo, a minha.

[ 90 ] Brasília, 07/01/2006. Amar Zen

Amar é transcender
os limite da personalidade,
fazer sexo com alguém especial
e gozar a realidade.
Apesar de tanto conhecimento,
muito tempo me encontro sem assunto,
apenas sinto os sentimentos
e respiro o ar profundo.
É como se eu fosse
só um filtro de ar
que serve para trocar energia,
permitir que me conheça,
conseguir dele energia e oxigênio
para o corpo físico sustentar.
Zen é um ninho de paciência,
é a ciência da paz,
é o tesão pela vida
que deixa passar a tensão vital.
Nunca vi tão eficiente técnica
em que vi tal paz.
Dhyana, meditação zen,
apenas é, está, respira,
percebe e sente o que vem,
e se mantém um ser pró-bem.

[ 91 ] Brasília, 18/01/2006. Mulher (2)

Eu não preciso
criar uma mulher;
ela já existe;
eu vou até ela
e ela vem até mim,
e a gente se encontra
neste mar sem fim,
preenchido por nosso
amor carmim.

[ 92 ] Brasília, 16/06/2006. Moça

É isso aí, moça bonita,
fique à vontade para ser egoísta!
Esconda o peito
da minha vista.
Exija respeito,
cruze os braços
em sinal de protesto
ao meu olhar indiscreto.

[ 93 ] Brasília, 18/06/2006. Arte elementar

Arte é terra,
é minha base,
onde me moldo,
ar-te é o ar para mim,
é um estilo de vida,
é ser artístico na vida,
não só n’arte,
arte é a água
onde o meu ser flui
arte é fogo
em que queimo
e me transformo,
e que sou eu mesmo,
fogo-luz.

[ 94 ] Brasília, 19/07/2006. Pensar

Os amigos da sabedoria
saíram da caverna
para a luz do dia,
soltaram a língua
e revelaram um pouco do que sabiam.
O analista estava num trabalho de grupo
quando o sono e o desinteresse
causaram uma redução do vínculo com o seu ser.
É como se desfalecesse
mas voltasse,
pois não tinha como dormir.
Dirigindo o seu carro,
conversou com a colega caroneira,
falando menos besteira
do que quando está sozinho
e não há quase assunto,
o que o deixa muito inquieto,
pois sendo demais mental,
quer mesmo é pensar.

[ 95 ] Brasília, 19/07/2006. Pensador

Somente um tolo poderia um dia
os seus belos poemas queimar,
na ilusão de que a vida
é um simples mar
de pensamento filosófico.
Quando a mente dá volteios
e nenhum raciocínio consegue pacificá-la,
fica clara a impotência do mero pensar.
Às vezes, agir ajuda a passar o tempo,
vivendo zen apenas aquele momento.
Às vezes, perceber o sentimento
me lembra que não sou
só idéias e pensamentos.
Mas quando nada disso resolve,
só mesmo a ajuda de um Mestre mais nobre.

[ 96 ] Brasília, 31/07/2006. Poesia

Se eu escrevesse
um poema por dia,
que benefícios
pro mundo haveria?
Muitos diriam:
bem ou mal feitos,
em nada me dizem respeito.
Não trazem melhoria
ao meu cotidiano
insosso e triste,
infeliz e sem alegria.
Confesso que desconheço
a sua utilidade prosaica,
mas ao menos a informação passaria
de que tudo é consciência e energia.

[ 97 ] Brasília, 07/08/2006. Loucura?

Por que será
que poucos em alguém percebem
um algo de loucura?
Será que são tão loucos
de só perceberem a si mesmos
e um pouco da máscara dos outros?
Quem terá mais sanidade,
quem se dedica ao nobre desafio
de pensar e sentir-se, de se autoconhecer,
de comparar-se com os outros e consigo mesmo
no passado e no futuro?
Quem consegue viver a vida plenamente,
autocuidar-se e sentir prazer,
ser interativo e produtivo,
características da normalidade?
Será sanidade
achar que a vida
é só ser obediente e repetitivo,
passivo e imitativo,
limitado e comportado?
E portado com os outros,
um útil fardo
para os pensantes e poderosos.
O meramente sereno
fica estático, parado,
e acha que tudo
assim também está.
Não percebe que até o ar
move-se e quer nos falar
de outras eras e terras
por onde passou
e se transformou.
Então também vou
no mundo andar e dançar,
eras sem fim atravessar
para ao meu próprio Ser chegar.


SOBRE O AUTOR

Caio Márcio Pereira Lyrio nasceu em Brasília, em 28 de janeiro 1966. Graduou-se Bacharel em Letras-Tradução Inglês, em 1988, na Universidade de Brasília (UnB). Estudou a língua alemã na República Federal da Alemanha (RFA) de novembro de 1985 a junho de 1986; foram dois meses no Instituto Goethe de Rothenburg ob der Tauber, como bolsista, e um semestre letivo na Universidade de Heidelberg. Trabalhou, em Brasília, como Chefe de Gabinete da Secretaria Geral da Presidência do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, por sete meses, em 1989 e 1990; como Assistente da Carreira Apoio às Atividades Jurídicas, na Procuradoria Geral do Distrito Federal (PRG/DF), de 1991 a 1993; como tradutor autônomo do inglês e do alemão para o português, em 1989 e 1990; e como Oficial de Chancelaria do Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil, de junho de 1994 a julho de 1999. Trabalha como revisor de textos.

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